domingo, 13 de janeiro de 2008

Prescrição de placebos é prática frequente, diz estudo

A prescrição de placebos é uma prática comum entre a classe médica, revela um estudo realizado em Chicago, nos Estados Unidos da América, de acordo com o qual 45 por cento dos médicos admitiu já ter receitado um placebo a um paciente, pelo menos uma vez. Os resultados da investigação, publicados na edição deste mês do “Journal of General Internal Medicine”, foram noticiados pelo jornal The Globe and Mail.

Inquéritos anteriores, realizados com a participação de médicos israelitas e dinamarqueses, tinham já revelado que 60 e 85 por cento destes profissionais, respectivamente, admitiam confiar no “efeito placebo”. Apesar da prescrição de comprimidos placebo ser muitas vezes encarada como uma prática eticamente duvidosa, o efeito placebo pode funcionar, refere o jornal. Tomografias axiais computorizadas (TAC), que examinaram o cérebro dos pacientes, indicaram que os placebos desencadeiam o funcionamento das endorfinas, substâncias responsáveis pelo bloqueio da dor no cérebro.

No entanto, é preciso esclarecer que os médicos não andam por aí a distribuir comprimidos de açúcar como se estes fossem medicamentos reais, salienta Rachel Sherman, a principal responsável pela investigação, e estudante do 4ª ano de medicina da Universidade de Chicago. O que acontece frequentemente é o médico recomendar a um paciente a ingestão de ibuprofeno para o alívio da dor quando nada mais funciona, porque “pode resultar e mal não faz”, assevera a responsável. Mesmo que o médico não acredite que o fármaco alivie os sintomas físicos, o efeito placebo poderá fazer com que, apesar de tudo, o paciente se sinta melhor.

Sherman acredita que a sua pesquisa, que contou com a participação de 231 médicos, vai fazer sobressair a necessidade de uma discussão mais aberta sobre o assunto. “Talvez isto seja algo que se venha a tornar mais amplamente conhecido”, acrescentou.

Entre os 231 médicos da região de Chicago inquiridos pelo estudo:

45% admitem prescrever placebos aos seus pacientes;
15% prescreveram placebos entre 1 e 10 vezes em 2007;
85 prescreveram placebos mais de 10 vezes em 2007;
22% não prescreveram qualquer placebo em 2007.

Quando questionados acerca das práticas de outros colegas e enfermeiros:

80% dizem acreditar que os seus colegas utilizam placebo durante os cuidados de rotina;
60% acreditam que estes o fazem rotineiramente;
185 referem que estes o fazem algumas vezes;
2% acreditam que o fazem muitas vezes.

No que respeita às circunstâncias de prescrição:

18% fazem-no para acalmar o paciente
185 admitem fazê-lo enquanto suplemento ao tratamento
15% quando são confrontados com um pedido não justificado para que prescrevam um medicamento
13% por queixas não especificadas
11% depois de todas as possibilidades de tratamento terem sido esgotadas
6% para controlar a dor
6% para fazer com que o paciente para de se queixar
4% enquanto ferramenta de diagnóstico

Marta Bilro

Fonte: The Globe and Mail, Pharmalot.