domingo, 7 de outubro de 2007

REPORTAGEM

Erros de medicação ameaçam segurança no internamento
Quando a Saúde também está doente...


Dar entrada num hospital em busca da cura para uma doença e dias depois deixar as instalações ainda em pior estado é uma realidade relativamente comum em Portugal e no resto do mundo. À luz dos mais recentes dados da Organização Mundial de Saúde e de várias entidades nacionais, a qualidade dos serviços de saúde prestados no nosso país não é animadora. Erros humanos e efeitos adversos da medicação são as faces mais visíveis de um cenário dramático: e quando algo corre mal no atendimento hospitalar, é o doente que paga a factura. Às vezes com a própria vida...
De acordo com o que o farmacia.com.pt conseguiu apurar junto da OMS e das mais diversas forças actuantes no sector da prestação de cuidados de saúde em Portugal, as mais recentes estimativas demonstram que nos países desenvolvidos um em cada 10 doentes é alvo de um qualquer problema assistencial enquanto permanece hospitalizado. Entre as principais razões para que isso aconteça há a ter em conta os erros humanos ou os efeitos secundários adversos da medicação administrada em meio hospitalar. A título de exemplo, a OMS afirma que, "em alguns países, a proporção de injecções que são administradas com seringas ou com agulhas reutilizadas sem as submeter ao processo de esterilização é superior a 70 por cento". A organização refere que essa opção "expõe ao risco de infecções milhões de pessoas" e motiva anualmente 1,3 milhões de mortes em todo o mundo, designadamente devido à transmissão de doenças como as hepatites B e C e a sida.
Em Portugal os dados mais recentes sobre a segurança dos doentes hospitalizados remontam a 2005 e têm, quase todos, a chancela da associação de defesa do consumidor Deco. Naquele ano foram dois os números da revista «Proteste» dedicados à temática dos perigos associados ao internamento - infecções hospitalares e má qualidade da comida servida nas cantinas dos hospitais -, e uma investigação divulgada na edição de Setembro daquele ano na revista «Dinheiro & Direitos» deu a conhecer a existência de problemas como "listas de espera intermináveis, informação escassa aos pacientes e uma prestação de serviços cara e pouco eficiente”. O estudo referia ainda que, "quando os profissionais de saúde falham, as consequências para os utentes podem ser graves”, incluindo a morte, que de acordo com a mesma fonte atinge anualmente milhares de pessoas na rede nacional de hospitais. Depois da comida e do preço dos tratamentos, na edição nº265 da revista «Teste Saúde» era abordada a questão do ambiente hospitalar, com os técnicos da Deco a aferir que “mais de metade dos hospitais visitados no decurso do estudo revelava concentrações de microrganismos acima do limite máximo admitido pela Organização Mundial de Saúde”.

Sete mil mortes anuais
Os mais recentes dados disponibilizados pela Autoridade Nacional do Medicamento e dos Produtos de Saúde (Infarmed) apontam para a ocorrência de sete mil mortes anuais devidas a erros relacionados com a utilização de fármacos em ambiente hospitalar, e de cerca de 20 mil óbitos por ano associados a outros erros médicos. Ainda mais gravosas são as consequências das reacções adversas, que matam 106 mil doentes a cada ano que passa, e que em três quartos dos casos são perfeitamente evitáveis. Diante deste cenário, a Ordem dos Farmacêuticos salientou a necessidade de promover programas de gestão do risco hospitalar, envolvendo os hospitais, as empresas farmacêuticas, as distribuidoras e os profissionais.
Depois de, recentemente, o director-geral de Saúde ter referido que sete por cento dos pacientes internados nos hospitais portugueses contraem infecções devidas a erros médicos, o farmacia.com.pt foi ouvir a opinião de Margarida França, especialista de reconhecido mérito nesta matéria. Administradora hospitalar, vogal do Conselho Directivo do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) e membro da Agência Nacional de Investigação, tendo sido também directora-adjunta do Instituto Português da Qualidade em Saúde, a perita aceitou comentar os números, avançando a sua convicção de que a solução estará no desenvolvimento e na implementação de programas mais rigorosos de gestão do risco hospitalar.
Em finais do passado mês de Setembro Margarida França participou numa conferência internacional realizada no Porto, e em que, sob a égide da presidência portuguesa da União Europeia, cerca de 400 académicos, decisores públicos e representantes de sistemas de saúde na UE debateram a «Segurança dos doentes – Investigação na prática», focalizando a discussão na problemática da “promoção e divulgação da acção e da investigação internacionais, o reforço do alargamento de um leque de iniciativas e a proposta, para a prática, de padrões baseados na evidência”.
Tendo em conta que, quando recorre a um qualquer serviço de saúde, o doente pretende curar-se das patologias que o atormentam, e considerando os números avançados na véspera daquele encontro pelo director-geral de Saúde, Francisco George, segundo o qual sete por cento dos doentes internados contraem infecções hospitalares, a especialista enfatizou, em declarações ao farmacia.com.pt, que "há programas de gestão do risco dirigidos especificamente para evitar e corrigir esses erros e incidentes”. Salientando que em meios como os hospitais, em que “há tantas pessoas doentes”, será impossível driblar totalmente os riscos de contágio de determinadas doenças, quer entre os pacientes que se encontram internados, quer mesmo entre os profissionais de saúde, Margarida França frisou que o papel desses programas de gestão de risco passa a ser o de “diminuir o impacto” dos riscos que não podem, de todo, ser evitados".

Carla Teixeira
Fonte: Organização Mundial de Saúde, Infarmed, Ordem dos Médicos, Ordem dos Farmacêuticos, Ordem dos Enfermeiros, contactos telefónicos

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