quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Especialistas debateram «Inovação farmacêutica» em Viseu
Custo elevado inviabiliza aposta na investigação


O volume de novos produtos surgidos no mercado farmacêutico europeu tem vindo a sofrer um decréscimo considerável ao longo dos últimos anos. Para o presidente da Associação Portuguesa de Indústria Farmacêutica (Apifarma), “uma das razões” para que tal aconteça é a “escalada dos custos da investigação”, processo exigente e demorado, mas que tem vindo a ser condicionado pelo factor económico. Partilhar riscos poderá ser a resposta para o problema…

No âmbito de uma conferência internacional dinamizada na cidade de Viseu, sob a égide da presidência portuguesa da União Europeia, e que se subordinou ao tema «Inovação farmacêutica: uma nova estratégia de Investigação e Desenvolvimento na UE», e que serviu de pano de fundo a uma discussão entre os vários agentes do sector farmacêutico em Portugal, João Almeida Lopes lamentou que “o número de novos produtos no mercado europeu tenha diminuído ao longo dos anos” e apontou o preço da aposta na pesquisa de novas fórmulas e moléculas. O responsável disse ainda que “nestas matérias há que procurar soluções conjuntas”, preconizando que deverá existir um aprofundamento do “modelo de risco partilhado em todas as fases do processo de desenvolvimento do medicamento”.
Representando o Governo no encontro, que definiu como parte de “uma marca que a presidência portuguesa deixa” naquela área, o secretário de Estado da Saúde foi peremptório na sua convicção de que, “de forma discreta”, o conceito defendido por João Almeida Lopes, da responsabilidade partilhada, “tem vindo a ser desenvolvido em Portugal, em alguns casos por intermédio de um mecanismo que diz respeito a contratos com empresas, nomeadamente com o Ministério da Saúde, e através do Infarmed, no momento de introdução do medicamento” no mercado, asseverando que se trata de “definir à partida quais são as responsabilidades mútuas e quais os limites de utilização desses novos medicamentos”. No final do encontro Francisco Ramos considerou que, tendo por base a discussão mantida em Viseu, é “evidente que vale a pena aprofundar mais o conceito”.
Opinião semelhante foi expressa, no âmbito da mesma reunião, pelo presidente da Autoridade Nacional do Medicamento e dos Produtos de Saúde (Infarmed). Vasco Maria considerou que “o modelo é possível”, e acrescentou mesmo, tal como tinha defendido o secretário de Estado, que “de alguma maneira essa responsabilidade partilhada e esse risco já estão a ser assumidos quando há um financiador público disposto a colaborar com a investigação”. Na opinião daquele responsável, “haverá muitas áreas em que esse risco partilhado vai expressar-se”, argumentando que na fase posterior à investigação, quando os medicamentos já estiverem disponíveis no mercado, também será possível aplicar aquele modelo.
Em declarações à Agência Lusa à margem do encontro, Vasco Maria avisou, no entanto, que aqueles medicamentos “continuarão a ser muito caros à chegada ao mercado”, defendendo a necessidade de os governos assumirem também a sua quota parte de responsabilidade, no sentido de viabilizarem o acesso dos doentes àqueles fármacos. “Nessa perspectiva – reiterou – continuaremos a ter esse risco partilhado, mesmo depois de os medicamentos chegarem ao mercado”. Para Vasco Maria, a conferência dinamizada pela presidência portuguesa da União Europeia em Viseu permitiu concluir que “há a necessidade de concertar esforços no sentido de promover a inovação farmacêutica e de pôr novamente o sector farmacêutico na Europa na posição cimeira que já ocupou”.

Carla Teixeira
Fonte: Agência Lusa, presidência portuguesa da União Europeia

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