quarta-feira, 5 de setembro de 2007

REPORTAGEM

15 de Setembro: Dia Europeu das Doenças da Próstata
Um cancro em cada 20 homens examinados



Aproximadamente 30 por cento dos homens portugueses com idade superior a 50 anos desenvolvem, a dada altura das suas vidas, o cancro da próstata. São 130 mil doentes e quatro mil novos casos anuais de um carcinoma que inicialmente surge assintomático, e que, depois do cancro do pulmão, é a doença oncológica mais comum no sexo masculino no nosso país, com uma prevalência de três por cento. Os especialistas dividem-se quanto à importância do rastreio, numa altura em que uma nova combinação de fármacos parece trazer boas notícias aos doentes, associando-se ao tratamento já existente: a braquiterapia. No dia 15 a Associação Portuguesa de Urologia assinala o Dia Europeu das Doenças da Próstata.

À luz dos resultados de um estudo divulgado na última terça-feira na XXIX Reunião da Sociedade Internacional de Urologia, que decorreu em Paris, a combinação dos fármacos dutasterida e tansulosina demonstrou eficácia alargada no tratamento da hiperplasia benigna da próstata quando comparada com a monoterapia, motivando uma melhoria significativa do quadro sintomático dos doentes. No estudo CombAT estiveram envolvidos 4800 homens com sintomatologia grave a moderada de HBP, que foram medicados com Avodart (durasterida), um inibidor da 5-reductase (5ARi) desenvolvido e comercializado pela GlaxoSmithKline, e tansulosina, um bloqueador alfa-adrenergico. O objectivo primacial do estudo, com um programa calculado para dois anos, foi o de aferir a eficácia da dutasterida e da tansulosina em associação versus a monoterapia, e avaliar os benefícios em termos de sintomatologia”, mas o estudo ainda está em marcha, depois de aferidos estes primeiros dados, visando determinar, a quatro anos, a eficácia daquela terapêutica combinada na redução da progressão da HBP, da incidência de episódios de retenção urinária aguda e da diminuição da necessidade de cirurgia associada à HBP.
Ao terceiro mês do estudo pôde ser verificado pelos cientistas responsáveis pelo estudo um primeiro sinal da “superioridade do regime combinado” no que respeita à melhoria significativa dos sintomas do aparelho urinário, resultante da comparação com a dutasterida isoladamente. O mesmo viria a acontecer, ao nono mês, no que toca à comparação com a tansulosina, também isoladamente. Os dois benefícios apurados mantiveram-se constantes até final da primeira fase do estudo CombAT, que demonstrou ainda, segundo os investigadores, que “a dutasterida é o unico 5ARi que condiciona uma redução dos sintomas mais consistente, se comparada com a tansulosina (bloqueador alfa), durante os dois anos de tratamento. Segundo os especialistas, os efeitos secundários decorrentes do prosseguimento do estudo “foram os esperados tendo em conta o perfil farmacológico das terapêuticas usadas em monoterapia. A incidência global de recções adversas e de efeitos colaterais graves foi idêntica nos três grupos de tratamento.

Braquiterapia
A mortalidade associada ao cancro da próstata tem vindo a aumentar no contexto europeu desde a década de 1980, e em Portugal é a segunda doença oncológica mais frequente nos homens, afectando cerca de 30 por cento daquela população com mais de 50 anos. Na Europa é diagnosticado um cancro da próstata em cada 20 homens rastreados, com uma cadência de três minutos entre cada sentença, e a cada seis minutos há uma vítima mortal da doença. O Hospital do Desterro, em Lisboa, realizou em 2004 um estudo que levou à identificação de tumores malignos em 43 pacientes, de um total de 828 rastreados. Foi aquela a primeira unidade de saúde pública portuguesa a disponibilizar o tratamento por braquiterapia, que além de evitar um longo período de hospitalização permite aos doentes uma recuperação mais rápida, mais cómoda e com menor custo.
Desde 2003 o Hospital do Desterro realizou centenas de intervenções cirúrgicas de braquiterapia, que consiste na implantação na próstata, mediante o uso de agulhas, de pequenas sementes radioactivas, que libertam altas doses de radiação. Durante o processo o médico é guiado por ultra-sons, a fim de posicionar adequadamente a emissão de radiações, que causam menor dano às células circundantes e actuam durante semanas ou meses sem necessidade de serem removidas. Com recurso a este tratamento os efeitos secundários associados à remoção da próstata, como a impotência sexual ou a incontinência, são muito reduzidos. De entre as técnicas de braquiterapia existentes actualmente em Portugal, aquela que se tem generalizado mais, pela sua relativa simplicidade, baixa taxa de complicações e reduzido tempo de internamento, é o implante permanente das pequenas sementes de Iodo-125. O procedimento é seguro, dada a relativamente baixa actividade e energia das partículas emitidas.

Dia da Próstata
Do vasto rol de actividades desenvolvidas pela Associação Portuguesa de Urologia faz parte a celebração anual do Dia Europeu das Doenças da Próstata, sempre ao dia 15 de Setembro. O objectivo desta jornada prende-se essencialmente com uma aposta na sensibilização dos profissionais de saúde e das populações para dados importantes como a prevalência das doenças da próstata e a forma de as evitar. A associação realiza habitualmente uma conferência de imprensa na véspera, e este ano não é excepção, estando o encontro marcado para a sede da APU em Lisboa. No encontro serão transmitidos alguns números actualizados e as informações de maior relevância sobre as patologias da próstata, que serão depois acompanhadas por campanhas nos vários meios de Comunicação Social, além da distribuição de cartazes e folhetos informativos nos centros de saúde, nos hospitais e na rede nacional de farmácias.

Carla Teixeira
Fonte: Estudo CombAT, Associação Portuguesa de Urologia, Agência Lusa, «Diário de Notícias», Jasfarma

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