sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Stress pode desencadear doença de Alzheimer

Investigadores portugueses contribuíram para a descoberta

O stress pode ser um factor decisivo no desenvolvimento da doença de Alzheimer, uma descoberta levada a cabo por uma equipa de investigadores liderada por dois cientistas portugueses. Apesar dos resultados serem promissores, os responsáveis insistem em abordá-los com prudência, visto que a experiência só foi ainda realizada em animais.

Conduzida por três investigadores, entre os quais dois portugueses, Osborne Almeida e Nuno Sousa, a pesquisa resultou da colaboração entre diversos cientistas da Alemanha, Reino Unido e Portugal e, dois anos e meio depois de ter sido iniciada, está ainda a dar os primeiros passos.

Conforme explicou Nuno Sousa, investigador da Universidade do Minho, em declarações à agência Lusa, as alterações que conduzem à doença de Alzheimer são devidas ao mau processamento de uma proteína chamada beta-amilóide, responsável pela formação das chamadas placas amilóides que aparecem no cérebro dos doentes com Alzheimer.

Através dos animais, os investigadores tentaram “avaliar se a exposição ao stress induzia o processamento anómalo desta proteína. Submetemos animais a protocolos de stress crónico e verificámos que havia esta relação”, explicou o investigador. Numa fase posterior, adicionaram-se outros dois estímulos: injecção de glucocorticóides - cuja produção é a primeira resposta fisiológica ao stress - e de beta-amilóide no cérebro dos ratos.

“Fomos verificar se havia efeito cumulativo e, de facto, estímulos distintos caminham no sentido de aumentar esta proteína”, o que revela que os glucocorticóides têm o mesmo efeito, confirmando o importante papel desempenhado pelo stress na doença, disse, salientando que “stress e hormonas de stress são indutivas do aparecimento de marcadores de Alzheimer”.

Esta conclusão torna-se especialmente relevante visto que o glucocorticóide é usado para tratar doentes de Alzheimer, mas tendo em conta os resultados da investigação, poderá estar a contribuir para a doença em vez de ajudar. Porém, de acordo com Nuno Sousa, “há mais do que um tipo de glucocorticóide, e ligam-se a diferentes receptores. Quando se ligam a um determinado receptor, conferem protecção neuronal. Mas os que se ligam a outro, o receptor GR, podem ser nefastos”.

Ainda assim, o cientista faz questão de ser cauteloso no que toca às implicações destes dados. “Uma coisa são os animais, outra são as pessoas. Mas não deixa de ser um fortíssimo indicador de que pode ter confirmação clínica”. É com essa intuito que a mesma equipa de investigadores já está “a dar os primeiros passos nestes estudos clínicos”, adiantou.

Agora há dois caminhos a tomar por parte dos investigadores: por um lado prosseguir o estudo em modelos animais e verificar que mecanismos estão na base destas alterações, por outro lado fazer investigação clínica e ver os processos de envelhecimento, porque a doença de Alzheimer se enquadra numa perturbação que tem a ver com a idade. Os resultados da investigação, já disponíveis na edição online da revista "Molecular Psychiatry", serão também publicados na versão em papel.

Marta Bilro

Fonte: Diário Digital, Lusa, TSF.

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