sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Hemorragias e perfurações entre as lesões mais comuns
Anti-inflamatórios prejudicam saúde dos portugueses


A elevada toxicidade dos medicamentos anti-inflamatórios, que os portugueses tendem a utilizar de modo abusivo, muitas vezes em regime de automedicação, estão a pôr em risco a saúde de 350 mil pessoas, 20 mil dos quais de forma muito grave. Quem o diz é o gastrenterologista Guilherme Macedo, que ao jornal «Destak» salienta, entre os efeitos perniciosos daqueles fármacos, a existência de lesões como hemorragias e perfurações do tecido gástrico. Em causa está, na maior parte dos casos, o desrespeito dos doentes pelas indicações médicas.

De acordo com aquele especialista, “dos mais de um milhão de portugueses a quem são prescritos anti-inflamatórios, um terço (aproximadamente 330 mil) acaba geralmente por contrair lesões endoscópicas no aparelho digestivo”, que em cerca de dois por cento dos casos (20 mil pacientes) evoluem para lesões mais graves, que quase sempre motivam a realização de intervenções cirúrgicas de emergência. “A grande toxicidade dos AINES, mesmo quando são tomados em doses terapêuticas, prende-se com este tipo de lesões, no estômago e no duodeno”, que todos os anos afectam 350 mil portugueses, explicou o especialista, que falava ao jornal gratuito no âmbito de uma conferência sobre aqueles medicamentos, agendada para este sábado em Torres Vedras, que deverá contar com a presença daquele e de outros peritos na matéria.
Guilherme Macedo aponta a automedicação e a consequente banalização do consumo de AINES como razões para este cenário, mas frisa que também o incumprimento das regras indicadas pelos médicos para a sua administração, designadamente no que toca à toma dos protectores gástricos prescritos, está na base dos problemas detectados nos consultórios. A tendência para o exagero na ingestão daquele tipo de medicamentos, e o facto de muitos doentes os tomarem “por tudo e por nada”, fazem com que os cidadãos portugueses consumam actualmente mais do dobro dos anti-inflamatórios consumidos pela generalidade dos cidadãos europeus. Tal como o farmacia.com.pt oportunamente noticiou, ascende a mais de 800 mil o número de portugueses que diariamente ingerem AINES, entre os quais constarão cerca de 228 mil que o farão sem estarem munidos da necessária receita médica.
Segundo disse na altura Hermano Gouveia, vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Gastroenterologia, “em Portugal banaliza-se demasiado o consumo” dos AINES “e as pessoas devem ser alertadas para os riscos”, uma vez que “50 por cento dos pacientes que tomam anti-inflamatórios têm queixas digestivas e 10 por cento úlceras”. O consumo desregrado daqueles fármacos pode mesmo, em situações-limite, causar a morte, já que os riscos da sua administração aumentam consideravelmente quando a mesma é feita sem a necessária supervisão de um clínico especialista. Os anti-inflamatórios são, por vários motivos, contra-indicados em doentes com úlcera péptica activa. A sua prescrição a doentes que tenham histórias de úlcera ou hemorragias digestivas exige precauções adicionais, salientam os médicos.
De acordo com o «Prontuário» da Autoridade Nacional do Medicamento e dos Produtos de Saúde (Infarmed), os AINES “têm múltiplos mecanismos de acção, além da inibição da síntese de prostaglandinas, que contribuem seguramente para o efeito terapêutico, e eventualmente para o seu perfil de efeitos indesejáveis. Entre estas acções incluem-se a interferência com a adesão dos neutrófilos às células endoteliais, com a activação dos neutrófilos, com a diminuição da expressão de moléculas sinalizadoras dos locais de migração leucocitária, com a prevenção da expressão da sintetase induzível do monóxido de azoto e com a facilitação da apoptose”. A sua acção principal, contudo, é a que resulta da inibição da síntese das prostaglandinas, também responsável por efeitos indesejáveis, fundamentalmente gastrintestinais e renais, atesta a entidade reguladora do sector farmacológico em Portugal.

Carla Teixeira
Fonte: Destak, Infarmed, farmacia.com.pt

2 comentários:

ptcp disse...

Muito importante o artigo que elaborou.

Nunca é demais chamar a atenção dos leitores para este tema que, apesar de não ser desconhecido dos portugueses, é esquecido a maior parte do tempo.

ptcp disse...

O seu artigo está muito bom, a utilização que faz das várias fontes é muito bem conseguida.