sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Inquérito revela desconhecimento dos norte-americanos face ao papel da FDA

43% consideram que o desempenho da entidade reguladora é fraco

Os norte-americanos estão confusos acerca do papel governamental na supervisão da segurança dos medicamentos. Um inquérito do Centro de Estudos Presidenciais e Congressionais da Universidade Americana, financiado por donativos da Pfizer, indica que muitos dos questionados não compreendem a forma como a Administração Norte-Americana dos Alimentos e Fármacos (FDA) aprova os medicamentos e metade dos inquiridos classificam o desempenho da FDA como fraco.

“O povo americano considera que os cuidados de saúde são, depois da guerra, o assunto mais importante que, tanto eles, como os candidatos às presidenciais de 2008, terão que enfrentar”, salientou James Thurber, director do Centro de Estudos Presidenciais e Congressionais da Universidade Americana. “Os americanos sentem que a segurança dos medicamentos está relacionada com os cuidados de saúde e estão preocupados com isso”, acrescentou.

As apreensões dos cidadãos parecem estar a reflectir-se nas acções do Congresso. Esta quarta-feira a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos aprovou a Lei de Revitalização da FDA, regulamento que concede à entidade reguladora mais dinheiro e poder para assegurar a segurança do fornecimento de medicamentos no país. A proposta de lei deverá ser aprovada pelo Senado na próxima semana, sendo que deverá receber a assinatura do presidente George Bush até sexta-feira.

Enquanto isso não acontece, os norte-americanos mantêm uma atitude de descrédito e incerteza acerca da segurança dos medicamentos e da capacidade da FDA para manter fora do mercado os medicamentos inseguros. As respostas dos inquiridos indicam isso mesmo:

- 64 por cento acreditam que o sistema de saúde dos EUA está “falido”;
- 88 por cento estão confiantes de que as prescrições de fármacos nos EUA são seguras;
- 56 por cento acreditam que os medicamentos produzidos no Canadá e na Europa são seguros;
- 14 por cento acreditam que os fármacos produzidos na China e Índia são seguros;
- 82 por cento confiam na FDA para fiscalizar a prescrição de medicamentos;
- 74 por cento confiam nos grupos apoiados por pacientes;
- 67 por cento confiam nas empresas farmacêuticas;
- 53 por cento confiam no Congresso;
- 53 por cento avaliam como bom ou excelente o trabalho da FDA;
- 43 por dento consideram que o desempenho da FDA é fraco, sendo que os inquiridos na faixa etária entre os 18 e os 34 anos são mais positivos quanto à performance da entidade reguladora do que as pessoas na categoria sénior;
- Apenas 87 por cento já viu, leu ou ouviu falar acerca da Lei de Revitalização da FDA;
- 47 por cento consideram que as avaliações de novos fármacos devem ser pagos pela indústria farmacêutica e 46 por cento são contra essa ideia;
- Apenas 54 por cento tinham conhecimento de que a FDA aprovou todos os medicamentos prescritos;
- 37 por cento pensavam que a FDA aprovava apenas alguns medicamentos;
- 54 por cento referiram que o Governo financia a FDA;
- 20 por cento acreditam que o financiamento vem das farmacêuticas e 17 por cento acredita que ambos são responsáveis pelo financiamento;
- 43 por cento acreditam que os lucros da indústria são o principal factor que influencia os custos dos medicamentos;
- 28 por cento responderam que os preços dos fármacos estão mais dependentes dos custos da publicidade;
- Apenas 25 por cento referiram os custos com investigação;
- 72 por cento consideram que a segurança é mais importante do que uma rápida aprovação;
- 23 por cento consideram que os medicamentos devem ser aprovados o mais rapidamente possível.

De acordo com Thurber, este é um retrato esclarecedor da falta de informação ou da confusão gerada em torno das funções da FDA, pelo que a entidade reguladora deve apostar mais na transparência no que diz respeito às suas descobertas e considerações.

Para este responsável, casos como o do Vioxx (Rofecoxib), retirado do mercado por estar relacionado a problemas cardíacos, prejudicam seriamente a credibilidade da FDA e provocaram preocupações nas pessoas relativamente aos medicamentos prescritos.

Há, no entanto, quem defenda que o inquérito não aprofundou as questões que realmente precisam de ser colocadas. “Em vez de se concentrar em perceber se a segurança dos medicamentos é importante, seria muito mais interessante perguntar ao povo americano se estariam dispostos a realizar alterações no desenvolvimento e disponibilização de terapias inovadoras e que poderão salvar vidas de forma a melhorarmos o nosso desempenho ao nível da segurança”, afirmou Mark Fendrick, professor de gestão e políticas de saúde na Universidade do Michigan. Segundo o especialista, “esta é a verdadeira questão que precisa de ser colocada e parece que muitos dos questionários à opinião pública não estão dispostos a ir tão longe”.

As conclusões do inquérito basearam-se numa consulta a 800 norte-americanos adultos. O questionário foi realizado pelo “Mellman Group and Public Opinion Strategies” entre os dias 4 e 6 de Setembro de 2007 e tem uma margem de erro de 3,46 por cento.

Marta Bilro

Fonte: Forbes, Pharmalot.

1 comentário:

ptcp disse...

Muito bom.

Seria interessante analisar um estudo relativo ao Infarmed. Mas um estudo destes em Portugal nunca aparecerá numa segunda metade de uma qualquer legislatura e enquanto não surgirem entidades verdadeiramente independentes no sector.