sábado, 10 de novembro de 2007

40% dos idosos portugueses tomam medicação inadequada

Cerca de 40 por cento dos idosos portugueses tomam medicamentos inapropriados, que deveriam ser substituídos por outros mais seguros. A conclusão resulta de um estudo elaborado pela Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa que revelou também que os erros de prescrição dão origem a vários efeitos adversos, estando ligados a “11% dos internamentos hospitalares nos idosos”, noticia a edição deste sábado do jornal Diário de Notícias.

O estudo, que contou com a participação de 213 pacientes da área da Grande Lisboa, “revela que o País tem muitos mais casos de idosos a tomar fármacos errados do que outros países europeus, onde a percentagem é de 25%”, afirmou Sofia de Oliveira Martins, investigadora da Faculdade de Farmácia, citada pelo DN.

Tendo em conta os critérios Beers de 2003, "que avaliam o que o idoso deve tomar", foram detectados 114 casos de doentes (38,5 por cento dos participantes) com medicação errada, 40 por cento dos quais diziam respeito a fármacos que, de acordo com a listagem internacional, deveriam ser evitados pela população idosa, como as benzodiazepinas de longa duração (calmantes) e a ticlopidina, um anticoagulante utilizado na prevenção de tromboses e AVC.

Conforme explicou Sofia Martins, o diazepam, por exemplo, por ser “um medicamento de longa duração” torna-se difícil de eliminar do organismo, o que faz com que os idosos fiquem confusos, sonolentos, tontos e com tendência para caírem quando se levantam. Um estudo realizado em 2002 indicava que as quedas eram a principal causa de internamento associada a reacções adversas a medicamentos.

Por sua vez, a ticlopidina, que é utilizada para evitar a formação de coágulos, não supera a actuação da aspirina sendo, porém, muito mais tóxica, refere o estudo. Os antidepressivos, responsáveis por 22,8 por cento dos casos de medicação errada, surgem também entre os principais causadores de internamento entre os idosos. Em 96 por cento das situações estes medicamentos eram prescritos. A mesma investigação diz ainda que se para 70 por cento dos doentes um medicamento era desadequado, em 23,2 por cento dos casos dois fármacos deveriam ser excluídos.

No total, os pacientes incluídos neste estudo estavam a tomar 1543 medicamentos, o que resulta numa média de 7,23 fármacos por pessoa, um número que não se distancia do registado em outros países. A duração e a dosagem foram outros dos aspectos analisados, tendo-se observado que um em cada dez idosos tomava medicamentos em doses demasiado elevadas ou por demasiado tempo. "Há alternativas mais seguras e baratas. Além disso, acontece frequentemente que os idosos, com organismos envelhecidos, continuam a tomar as mesmas doses que tomavam em novos", referiu a investigadora

A dificuldade dos médicos em aceder a instrumentos específicos para os idosos foi uma das principais razões apontadas para o elevado número de prescrições erradas. Segundo afirmou Sofia Martins, “apesar de haver alguma informação, ainda não passou para a prática clínica”. A alternativa seria o acompanhamento por geriatras, mas "a especialidade não existe em Portugal. Para António Leuschner, ex-coordenador do Programa Nacional para a Saúde das Pessoas Idosas, há falta de atenção específica para o idoso, um aspecto que está já “a ser analisado no plano“. Maria João Quintela, especialista em gerontologia, chama a atenção para a necessidade de "uma revisão da terapêutica, para retirar os medicamentos ineficazes".

Marta Bilro

Fonte: Diário de Notícias, Infarmed.

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