segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Estômago cheio nem sempre é a melhor circunstância
Quando e como fazer a medicação oral?


A ideia generalizada de que os medicamentos administrados por via oral devem sempre ser tomados com o estômago cheio está profundamente errada. Embora haja fármacos cuja acção é potenciada nesse cenário, por ser nele que ocorre a absorção máxima, ou que afectam menos o aparelho digestivo se ingeridos sem a presença de alimentos, há outros casos em que essa atitude pode ser muito prejudicial para o doente. O mesmo se passa com os horários de administração do tratamento, que podem ter uma importância crucial ou pouco significativa.

A leitura das indicações terapêuticas constantes no folheto incluso é, também por isso, fundamental. Nela deverão ser explicadas as circunstâncias em que cada medicamento deve ser tomado, e os cenários em que a sua acção máxima é espoletada. Em alguns o efeito é melhorado se forem tomados antes das refeições, porque são inactivados pelos alimentos, noutros se forem tomados em seguida, porque nessa altura o estômago está protegido contra possíveis efeitos irritantes. A anotação dos horários e das condições em que determinados medicamentos devem ser administrados, designadamente quando o mesmo doente está a ser submetido a vários compostos químicos, poderá ser útil para melhor coordenar a toma e potenciar os seus efeitos positivos. No caso da azitromicina, por exemplo, a administração do antibiótico depois de uma refeição fará com que o seu efeito seja retardado.
Há também o risco de determinadas substâncias interagirem entre si ou com alimentos com que sejam ingeridas, adulterando o que deveria ser o efeito de cada uma delas no organismo do paciente. É o caso do leite, que muitas vezes se pensa poder ser útil para proteger o estômago da acção de um medicamento com características mais agressivas para aquele órgão, mas que pode, pelo contrário, inibir a acção de fármacos como, por exemplo, a tetraciclina, que perde eficácia se administrada com leite. A toma conjunta de antibióticos derivados das penicilinas (amoxicilina e ampicilina) e contraceptivos também é incorrecta, podendo comprometer a protecção do anticoncepcional, abrindo caminho a uma gravidez indesejada, e nos casos mais graves pode mesmo provocar hemorragias vaginais mais ou menos intensas.
Um simples descongestionante nasal pode igualmente causar problemas graves se for associado a um antiespasmódico, porque alguns aumentam o ritmo cardíaco e podem causar paragens do coração. Os tratamentos contra a hipertensão também não podem ser associados com anti-inflamatórios, sob pena de terem a sua eficácia reduzida. É o caso do Captopril, por exemplo, mas também de muitos outros medicamentos. Também a toma simultânea de antibióticos e diuréticos ou anti-ácidos pode potenciar uma perda de até 30 por cento no processo de absorção do antibiótico, reduzindo a sua eficácia. O papel do farmacêutico passa também por prestar estes esclarecimentos aos doentes no acto de aquisição dos seus medicamentos.

Carla Teixeira
Fonte: «A Gazeta»

1 comentário:

ptcp disse...

Excelente! Um artigo digno de uma farmacêutica.
Apenas dei mais algum protagonismo ao farmacêutico pois o folheto informativo gera mais confusões que certezas na maioria dos doentes.