segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Ligação entre cancro e sexo oral pode justificar administração de Gardasil em rapazes

O Gardasil, vacina contra o papilomavírus humano (HPV) destinada à prevenção do cancro do colo do útero, pode também vir a ser administrado em rapazes adolescentes para ajudar a evitar os casos de cancro relacionados com o sexo oral, dizem os especialistas.

O número crescente de casos em estudo demonstra que o vírus do papiloma humano, responsável pelo cancro do colo do útero, está também relacionado com cerca de metade dos casos de cancro da garganta ou orofaríngeos. Num artigo de análise publicado no jornal “Cancer”, clínicos do Centro Médico Anderson da Universidade do Texas aconselham os cientistas a apressar os estudos da vacina contra o HPV em adolescentes do sexo masculino, para que possa expandir-se a utilização da vacina.

Os investigadores acreditam que a melhor forma de reduzir os casos de cancro provocados pelo HPV é alargar o âmbito de adolescentes vacinados com Gardasil. De acordo com Kelly Dougherty, porta-voz da farmacêutica norte-americana, a empresa está já a estudar a possível aplicação da vacina em rapazes e tem planos para submeter o medicamento a aprovação nos Estados Unidos da América com essa indicação de utilização.

“Encorajaríamos a industria e os cientistas a estudarem a eficácia em rapazes e homens para que o programa de vacinação possa ser alargado”, afirmou Erich Sturgis, professor de cirurgia de cabeça e pescoço no Centro Médico Anderson e o principal autor do artigo. “Sabemos que os homens estão a ficar expostos e que uma maior proporção de cancros orofaríngeos são causados pelo HPV”, acrescentou.

Descobertas recentes indicam também a existência de uma ligação entre o vírus e o cancro do pénis, ânus e vagina. A relação entre o vírus e os cancros da cabeça e do pescoço, que, na sua maioria, afectam os homens, sublinha a necessidade dos rapazes serem vacinados antes de iniciarem a vida sexual, afirmam os especialistas.

Os dados sobre a utilização da vacina em adolescentes do sexo masculino devem ser divulgados durante o próximo ano, revelou Dougherty. O Gardasil pode, actualmente, ser administrado em rapazes adolescentes na União Europeia, México, Austrália, Nova Zelândia, Indonésia, Costa Rica e Coreia.

O cancro oral e da orofaringe era uma doença exclusiva dos “fumadores e dos alcoólicos”, refere Sturgis, porém, a “alteração das práticas sexuais assim como o aumento da frequência com que os adolescentes e jovens adultos praticam sexo oral pode contribuir para um maior número de casos de cancro orofaríngeos associados ao HPV”, frisam os investigadores.

Em mais de 90 por cento dos casos de cancros orais provocados pelo HPV a infecção foi causada pelo tipo 16 do vírus. O Gardasil protege contra os tipos 6, 11, 16 e 18 do HPV e o Cervarix, vacina comercializada pela GlaxoSmithKline oferece protecção contra os tipos 16 e 18. Segundo dados da Sociedade Americana de Cancro, anualmente, cerca de 650 mil pessoas são diagnosticadas com um cancro da cabeça ou do pescoço em todo o mundo, desse total, 350 mil casos revelam-se fatais.

Marta Bilro

Fonte: Bloomberg, Infarmed.

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