segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Oncologistas acusam directiva europeia de limitar diagnóstico do cancro

Os médicos oncologistas europeus contestaram hoje, durante a European Cancer Conference, a directiva comunitária 2004/40/EC, que pretende limitar o uso de Ressonância Magnética (RM) nos países-membros, de forma a proteger os operadores da exposição aos campos electromagnéticos.

A directiva em causa foi proposta pelo Comissário Europeu do Emprego e pretende minimizar a exposição dos profissionais de saúde a campos electromagnéticos, devendo entrar em vigor, em todos os países membros, em Abril de 2008. Contudo, para os oncologistas esta imposição de limites ao uso da RM vai prejudicar o diagnóstico e tratamento do cancro.

Segundo Dag Rune Olsen, que trabalha em radioterapia experimental em Oslo, Noruega, e é presidente da Sociedade Europeia de Radioterapia e Oncologia (ESTRO), "actualmente na Europa realizam-se oito milhões de explorações de pacientes por RM". Mas esta realidade deverá ser alterada com a entrada em vigor da directiva, que “impõe limites tais na exposição laboral à radiação que serão ultrapassados por qualquer pessoa que trabalhe ou se encontre perto de um equipamento de RM", salienta, assegurando que "a directiva pode afectar inclusive o pessoal de manutenção e reparação do equipamento".

A polémica acerca dos malefícios da RM já é antiga, mas foi depois de uma sondagem de opinião realizada à escala europeia, onde se concluiu que a grande maioria dos cidadãos da União europeia (UE) tinha a percepção de estar inadequadamente protegida pelas autoridade contra o potencial risco para a saúde criado pelos campos electromagnéticos (CEM), que o Comissário Europeu do Emprego decidiu avançar com a proposta.

Face aos resultados do eurobarómetro, Rune Olsen declarou que “se o público estivesse informado sobre a dita contribuição, estou seguro de que estaria tão desejoso como eu de que continuasse a permitir-se o uso de RM”, aproveitando ainda para salientar que o uso de RM representa para o diagnostico médico, um valor acrescido.

“O desenvolvimento de políticas deveria basear-se na ciência sólida e, que eu saiba, não existe evidência científica dos efeitos negativos para a saúde a longo prazo devido à exposição aos campos electromagnéticos estáticos ou variáveis que se produzem durante um exame de RM", disse o especialista.

Os oncologistas têm contestado as decisões políticas da Comissão Europeia, argumentando que as mesmas vão prejudicar o tratamento do cancro na Europa e salientam que é altura de os políticos escutarem os especialistas.

A Health and Safety Executive (HSE) publicou, no passado mês de Junho, um estudo britânico sobre a exposição do operador aos campos electromagnéticos gerados por RM, que vem atestar os argumentos dos especialistas. O estudo revelou que qualquer pessoa que se encontre no raio de um metro de um tomógrafo de Ressonância Magnética em uso, ultrapassaria os limites de exposição impostos pela directiva.

De qualquer forma a Comissão Europeia já admitiu reconsiderar o assunto, adiantando estar a ponderar sobre possiveis emendas à directiva, ou através da prorrogação do prazo de aplicação da directiva, ou tomando em consideração o estudo da HSE, assim como um outro que encomendou e que será publicado no próximo mês de Outubro.

Olsen realça que "na sua actual forma, a directiva coloca problemas concretos ao pessoal de saúde que atende crianças, velhos ou pacientes anestesiados e que necessitam de ajuda durante o exame", acrescentando ainda que também porá fim à utilização de procedimentos de RM com fins cirúrgicos, de intervenção e de investigação.

John Smith, presidente da Federation of European Cancer Societies (FECS - federação das sociedades europeias contra o cancro), apela aos médicos de oncologia que lutem por um papel activo, de forma a conseguir políticas que assegurem que as futuras legislações não tenham um impacto negativo semelhante.

Smith acredita que a directiva vai levar ao aumento dos custos do tratamento do cancro e da colaboração internacional na investigação com células-mãe - um campo legislado de forma muito diferente pelos diversos países europeus.

“É imperativo encontrar formas para melhorar a eficácia do custo no tratamento do cancro em geral e em especial o uso das drogas. A melhoria da eficácia do custo de medicamentos é uma prioridade fundamental para o sector, os políticos e o público em geral", considerou.

Inês de Matos

Fonte: Lusa

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