terça-feira, 5 de junho de 2007

Medicamentos: reacções adversas não quantificadas

As reacções adversas devido à utilização de medicamentos podem ter como consequência a hospitalização, incapacidade permanente e, até mesmo, a morte. Em Portugal, a morbilidade e mortalidade associadas aos fármacos não está quantificada. O alerta é de Tice Macedo, docente da Faculdade de Medicina de Coimbra.

A morbilidade e mortalidade determinada pelas Reacções Adversas a Medicamentos (RAM) são um problema maior de saúde pública.
“Nos EUA, as RAM’s estão entre a quarta e sexta causa de morte. Na França, Reino Unido e Noruega representam mais de 10% das causas de internamento hospitalar mas, no nosso País, os casos não estão quantificados”, advertiu uma docente de Farmacologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC).
Segundo Tice Macedo, “este é um problema comum mas, passível de ser prevenido”, informando que “são várias as fontes de dados em farmacovigilância.”
A docente considera que “os sistemas de notificação espontânea são de um valor inestimável enquanto sistemas de alerta, através dos quais efeitos adversos inesperados podem ser rapidamente identificados”, porém, lamentou que a sua principal limitação seja a potencial subnotificação: “Um dos mais graves problemas do Sistema Nacional de Farmacovigilância é o da elevada taxa de subnotificação e, a nível da União Europeia, Portugal é um dos países com mais baixa taxa de notificação”, denunciou Tice Macedo.
Na opinião da especialista em farmacologia, “apesar de os profissionais de saúde compreenderem que nenhum medicamento é completamente seguro, poucos estarão conscientes do impacto global das reacções adversas medicamentosas nos serviços de saúde”, defendendo, por isso, a necessidade de “assegurar que os problemas emergentes são prontamente reconhecidos” e de “encontrar formas de incentivo para aumentar o número de notificações espontâneas.”
Neste sentido, a docente da FMUC reforçou que “a instituição de sistemas de farmacovigilância assume especial relevância em termos de protecção da saúde pública e requer a adequada participação de todos os intervenientes — doentes, profissionais de saúde, investigadores, universidades, indústria farmacêutica, governos, organizações internacionais e comunicação social.”
Tice Macedo explicou que “a etapa do ciclo de vida do medicamento, designada por utilização dos medicamentos, tem duas componentes: os serviços relacionados com o ‘processo’ de utilização dos medicamentos e os serviços relacionados com os ‘resultados clínicos’ desta utilização”, concretizando que “muitas vezes os resultados esperados não são os alcançados, o que provoca morbi-mortalidade associada ao uso dos medicamentos.”
A professora esclareceu também que “está demonstrado que os resultados clínicos negativos da utilização dos fármacos podem ocorrer quando o processo de utilização é correcto” e, por isso, destacou “a responsabilidade acrescida do farmacêutico na identificação, prevenção e resolução dos Resultados Negativos da Medicação (RNM), o que pode ser feito através da prática profissional do Seguimento Farmacoterapêutico.”

Prevenção de RAM
Neste sentido, Tice Macedo adiantou alguns pontos fundamentais para a prevenção de RAM: “A alergia e a idiossincrasia são causas importantes das reacções adversas – perguntar sempre se houve reacções anteriores; perguntar se está a tomar outros medicamentos (preparados de plantas medicinais ou complemento) pois há risco de interacções possíveis; avisar sempre o doente se há probabilidade de ocorrer uma reacção greve; a idade, as doenças hepáticas ou renais podem alterar o metabolismo e a eliminação – reduzir a dose; tomar o menor número possível de medicamentos.”
“Um medicamento só é usado com segurança ao fim de uma geração”, concluiu.

Raquel Pacheco
Fonte: Prof.ª Tice Macedo/FMUC (Reportagem – Parte I)

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