sábado, 28 de julho de 2007

Descoberta pode ajudar a desenvolver tratamentos
Açúcar espoleta sensação de prazer da nicotina


Como se produz a sensação de prazer decorrente do consumo do tabaco? Quando a nicotina chega ao cérebro e estabelece ligação com os neurónios, como é que as células enviam o sinal que acciona o mecanismo do prazer e anuncia a sensação de bem-estar comum nos fumadores quando “puxam” do cigarro? Uma pesquisa de cientistas norte-americanos acaba de estabelecer uma teoria curiosa: na génese da satisfação aportada pelo cigarro estará, dizem, o açúcar.

Dados do estudo desenvolvido por uma equipa de investigadores da Universidade do Sul da Califórnia sugerem que o açúcar tem capacidade para “abrir caminho à passagem pela membrana celular, anunciando a chegada da nicotina ao cérebro”. De acordo com o biólogo Raymond Stevens, do Instituto de Pesquisa Scripps, que esteve ligado a esta investigação, cujos resultados serão a breve trecho publicados na edição online da revista científica «Nature Neuroscience», as conclusões deste estudo constituem “um marco nos campos da biologia estrutural e da comunicação neurológica”, porque além da dependência da nicotina, podem identificar alvos para o desenvolvimento de medicamentos relacionados com o tratamento de patologias como a epilepsia, a esquizofrenia ou a depressão.
Os cientistas aferiram que as moléculas do açúcar desempenham um papel crucial na actividade das proteínas, pelo que o estudo “preenche uma lacuna importante na área e estabelecem um novo paradigma”, segundo declarou Lin Chen, professor associado de Biologia Molecular e Computacional da universidade californiana. Há várias teorias correntes que consideram o papel do açúcar, mas o responsável diz que a maioria estará “provavelmente incompleta”, uma vez que o debate relativo ao modo como os sinais passam do exterior para o interior das células está em curso há já muito tempo, sem solução ou consenso. “O açúcar é fundamental”, garantiu Lin Chen.
De acordo com o mesmo especialista, os investigadores norte-americanos também encontraram uma molécula de água no interior do receptor – um dado significativo, explicou, já que em regra as proteínas são integralmente preenchidas por matéria hidrofóbica (repelente da água), circunstância que ajudará a manter a estrutura e a forma daqueles compostos. No entanto, segundo referiu Lin Chen, a molécula de água agora descoberta é capaz de activar o receptor para alterar o seu formato e contrabalançar a deformação ocasionada pela abertura e pelo encerramento da entrada da membrana das células, o que poderá ajudar a compreender o fenómeno da produção de satisfação pelo consumo de tabaco.

Carla Teixeira
Fonte: Agência Fapesp

Sem comentários: