sábado, 28 de julho de 2007

Ex-quadro da Wyeth e da Pfizer denuncia práticas ilegais
O «pesadelo» da indústria farmacêutica

Chama-se Peter Rost. É médico, nasceu na Suécia, mas vive nos Estados Unidos. Trabalhou para a Wyeth e para a Pfizer, e em ambas as companhias farmacêuticas foi demitido por denunciar práticas ilegais e anti-éticas. Diferendos que estiveram na base do livro «The whistleblower: confessions of a healthcare hitman», lançado em 2006. Hoje Peter escreve sobretudo num blog, mas tem agendado para 2008 um novo livro, «Killer Drug», que define como uma história de ficção passada num laboratório, mas em que diz haver “muitos factos reais”...

Embora o diferendo que manteve com a Wyeth tenha sido anterior (na década de 90 o médico foi delator de uma alegada fuga aos impostos), Peter Rost terá ficado conhecido da opinião pública americana e da indústria farmacêutica de todo o mundo quando, em Dezembro de 2005, se mostrou desagradado com a forma como a Pfizer, onde era vice-director de marketing, promoveu o genotropin, um medicamento para o crescimento. Rost acredita que a publicidade ao fármaco foi feita de forma ilegal, já que era anunciado como um potente produto contra as rugas, e queixou-se aos responsáveis máximos da empresa.
Em entrevista à revista brasileira «Época», que deverá ser publicada na edição do mês de Agosto, Peter Rost nega ter comprado uma zanga com a Pfizer, preferindo acusar a direcção da multinacional de o ter feito. “Eu apenas fazia o meu trabalho, mas um dia presenciei uma acção ilegal e questionei-a. Fui ignorado, mas quando disse o que sabia, fui demitido”, relatou. Depois disso, diz ter sido ameaçado por um empresário indiano do sector farmacêutico, mas considera que as companhias não incorreriam no erro de o ameaçar, porque teriam uma exposição muito grande e prejudicial se o fizessem. Diz, no entanto, que as empresas farmacêuticas “são muito poderosas porque ganham muito dinheiro” e “podem comprar tudo e todos”, acusando mesmo os laboratórios americanos de serem “donos da Casa Branca”, com a administração norte-americana a negociar muitas vezes em seu nome com os países pobres.
Considerando que “não há interesse das farmacêuticas em desenvolver fármacos que possam acabar com doenças conhecidas há décadas”, Peter Rost considera que há determinadas práticas na indústria do sector que “põem em risco a saúde pública da população mundial”, e lembra, a título de exemplo, o caso do Vioxx, um anti-inflamatório da Merck Sharp & Dohme que foi retirado do mercado em 2004 – a que o farmacia.com.pt se referiu recentemente – por ter causado ataques cardíacos a milhares de pessoas pelo mundo. O médico garante que “não podemos confiar nos laboratórios”, cuja “preocupação principal é ganhar dinheiro”, e acusa-os mesmo de inventar doenças para justificar o desenvolvimento e a venda de novos produtos, como “é o caso da menopausa”.

Carla Teixeira
Fonte: Revista «Época»

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