segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Clima de tensão no Infarmed compromete serviços

Ex-colaboradores confirmam ambiente de animosidade, rupturas e reestruturações frequentes

O afastamento da directora do departamento de Farmacovigilância do Infarmed, em Setembro, terá tido origem numa “animosidade” entre a responsável e um dos elementos do Conselho Executivo daquele organismo. Segundo apurou o farmacia.com.pt, este não é o único caso de ruptura em contornos de um clima de tensão.

Na sequência do despedimento de Regina Carmona (responsável por aquele sector há 15 anos) foi noticiado que o serviço de vigilância sobre a segurança e as Reacções Adversas dos Medicamentos (RAMs) da Autoridade Nacional do Medicamento e dos Produtos de Saúde (Infarmed) estaria parado.

Em declarações ao semanário «Sol» - jornal que ventilou a notícia - fonte da direcção negou, categoricamente, a paragem do serviço, assegurando que “está de boa saúde” e que o seu funcionamento decorre “dentro da normalidade”. Para justificar a demissão, o motivo apontado foi “reestruturação do sector”.

O certo é que, segundo conseguiu apurar o farmacia.com.pt, a exoneração de Regina Carmona terá sido delineada nos bastidores de uma reunião europeia sobre Farmacovigilância que se realizou, em Setembro, em Lisboa. Uma discussão calorosa que protagonizou com uma superior hierárquica ditou o seu afastamento.

A cena - pouco discreta para muitos presentes -, ter-se-á desencadeado porque Regina Carmona passou a palavra à superior hierárquica quando, na reunião, foi questionada pelos representantes europeus sobre a facto de Portugal ainda não ter adoptado um determinado modelo de gestão de riscos em medicamentos. Atitude que justificou com o facto de considerar a colega melhor preparada para responder. Porém, o imprevisto não agradou à dirigente do Infarmed, nem a resposta esclareceu a plateia. A situação veio, no intervalo do evento, motivar por parte da superior hierárquica, um pedido de satisfações, gerando, assim, o aceso episódio.

Instalada a animosidade, no dia seguinte, o caso foi discutido pelo Conselho Directivo do Infarmed, chegando a decisão de demissão ao conhecimento de Regina Carmona, quatro dias depois.

“Este não é um período fácil para mim. Ficar subitamente afastada da minha equipa de trabalho e da farmacovigilância, à qual me dediquei de corpo e alma desde há 15 anos, é bastante doloroso”, escreveu a ex-directora num email enviado a todos os funcionários do instituto e que o farmacia.com.pt teve acesso.

Em tom de resposta, a direcção do Infarmed emitiu uma circular interna evocando a reestruturação daquele departamento e, consequentemente, o cessar de funções da directora para ser nomeada assessora do Conselho Executivo.

No entanto, a nota oficial não tranquilizou os ânimos, nomeadamente, na maioria dos médicos que trabalhavam directamente com Regina Carmona. Uma onda de demissões provou uma autêntica onda de solidariedade. “A tua demissão nos moldes em que foi efectuada – um verdadeiro saneamento – conduz à minha inexorável saída do Infarmed”, comunicou um dos médicos via email enviado, também, a todos os funcionários.

O farmacia.com.pt sabe que, após a saída da directora de Farmacovigilância, também, o coordenador do serviço de notificações de RAMs abandonou o instituto. De acordo com uma fonte do Infarmed, o substituto de Regina Carmona é Miguel Antunes e trabalha com uma equipa de 19 colaboradores.


Falta de recursos humanos


Entretanto, a escassez de recursos humanos e o incumprimento dos serviços, foram denunciados ao farmacia.com.pt. “O Infarmed não cumpre, literalmente, a sua função no controlo e avaliação dos medicamentos, principalmente, por falta de recursos humanos”, acusou um ex-funcionário que saiu, também, em ruptura com o director de um departamento.

Considerando o caso de Carmona como “a ponta do iceberg”, a mesma fonte confirmou a existência de um “clima de tensão” dentro do organismo, revelando que os episódios de reestruturações são “frequentes”.

“Nunca houve uma equipa sólida e coesa devido às más condições laborais que oferecem, por isso, reina a insatisfação dos funcionários e colaboradores, levantam-se polémicas e dão-se as substituições”, delatou, advertindo que, para além da Farmacovigilância, “há outros departamentos parados, onde só funciona o carimbo.”

O farmacia.com.pt contactou o gabinete de comunicação do Infarmed na tentativa de obter uma reacção, mas o porta-voz encontrava-se indisponível.

Raquel Pacheco

Fonte: Infarmed/Sol/contactos telefónicos

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