sexta-feira, 27 de julho de 2007

Bulas de medicamentos são confusas, difíceis de ler e contraditórias

A linguagem utilizada pelos laboratórios nas bulas de medicamentos é “confusa, difícil de ler e desactualizada”, conclui um estudo da Deco numa análise a 18 embalagens e folhetos informativos. Apesar de 82 por cento dos doentes consultar os folhetos informativos sempre que compra um fármaco, se o fizer em países diferentes pode encontrar indicações contraditórias.

O estudo desta associação de defesa dos consumidores realizado em Portugal, Espanha, Bélgica e Itália, observou que mesmo havendo directrizes iguais por parte da Comissão Europeia, os folhetos apresentam, por vezes, informações contrárias. Um dos exemplos salientados pela investigação refere-se ao Vicks Syrup (Dextrometorfano) que em Portugal é desaconselhado a crianças com menos de seis anos, em Itália e Espanha com menos de 2 anos e na Bélgica na faixa abaixo dos 12. Por sua vez, o limite diário para a toma de Aspirina são oito comprimidos de 500mg, em Portugal, e apenas seis na Bélgica.

De acordo com a Deco, as embalagens e folhetos informativos ainda deixam algo a desejar, uma vez que incluem a principal informação obrigatória, mas esquecem recomendações comunitárias importantes, como é o caso da obrigação de referirem a frequência das reacções adversas. O antibiótico Augmentin (Amoxicilina + Ácido clavulânico) destaca-se pela positiva, já que é o único que faz bem a separação por frequência.

Há ainda os casos em que o mesmo folheto é utilizado para diversas dosagens e formas farmacêuticas (xarope, comprimidos, etc.), dificultando leitura. Isso mesmo acontece com o Zyrtec (Cetirizina), em comprimidos e xarope. Apenas metade dos medicamentos analisados pela Deco referem a influência do álcool. Uma das situações mais graves é a da Gabapentina, para a epilepsia, dado que a interacção entre o álcool e o fármaco aumenta o risco de sonolência. Já no caso do Fastum (Cetoprofeno) é sublinhada a falta de uma referência importante para o facto de não se apanhar sol, nem frequentar o solário durante o tratamento, por risco de reacções graves.

Há situações de medicamentos sem qualquer referência à duração máxima do tratamento e outros com dosagens ou apresentações diferentes a serem distribuídos com o mesmo folheto informativo. A Deco deixa assim um apelo ao Instituto Nacional da Farmácia e do Medicamento (Infarmed) e à Agência Europeia do Medicamento (EMEA) para que “assegurem uma informação mais homogénea, clara e legível ao consumidor”.

Marta Bilro

Fonte: Deco, Diário de Notícias.

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