sexta-feira, 27 de julho de 2007

Apifarma exige explicações a João Cordeiro

Presidente da ANF acusa indústria farmacêutica de actuar de forma “calada e subterrânea”

Foi a primeira entrevista, em dois anos, do presidente da ANF e já está a gerar furor. Ao «Diário Económico», João Cordeiro começou por acusar o ministro da Saúde de ter “massacrado injustamente o sector” e considerou que a indústria farmacêutica é “subterrânea”. O Farmacia.com.pt sabe que a Apifarma já reagiu. Indignada com as declarações, exige agora explicações a João Cordeiro.

As críticas dominaram a entrevista que o presidente da Associação Nacional das Farmácias (ANF) – há já 33 anos – deu esta semana ao «Diário Económico»: “O ministro da Saúde tem massacrado injustamente o sector. É óbvio e evidente que tem uma agenda pessoal. Se compararmos o que está no programa do Governo com a prática do Ministério da Saúde vemos que quase não há uma medida que seja coincidente. Há medidas fundamentais que estão no próprio programa do Governo e que não são implementadas. Temos estado a ser massacrados por Correia de Campos”, acusou.

Para exemplificar a dita “discordância de agendas”, João Cordeiro apontou a liberalização da propriedade das farmácias; a questão dos medicamentos não sujeitos a receita médica (anunciada na tomada de posse do Governo) e a prescrição por denominação comum internacional (DCI), “uma medida que consta do programa e não está a ser implementada”, frisou, defendendo que “a política tem de ser transparente e tem de ser coerente.”

Sobre o melhor acesso a medicamentos com a venda fora das farmácias, João Cordeiro ironizou: “Melhorou porque há mais lojas?!”, considerando que “a acessibilidade [em termos nacionais] ficou totalmente desequilibrada.” Segundo o presidente da ANF, neste momento, estão abertas quase 400 lojas, e fora das farmácias está 5% do mercado. Destes, cerca de 50% são vendidos no Continente. Portanto, e de forma objectiva, a única entidade que beneficiou dessa medida foi o Continente”, sustentou.

Confrontado pelo «DE» se a medida não é benéfica para o consumidor, foi peremptório: “Nós fazemos inquéritos à população e o que verificamos é que a liberalização da propriedade das farmácias não faz parte das vinte maiores preocupações. Está lá a preocupação com a qualidade dos serviços, dos hospitais, dos centros de saúde (...) A principal preocupação é o preço dos medicamentos, que estão caros porque a legislação não foi cumprida.”

O porta-voz dos actuais 2749 farmacêuticos portugueses garante não lhe interessar se a ANF tem uma boa ou má imagem nos media. “Definimos as políticas que consideramos adequadas, respeitando os interesses da população. Somos um sector exigente com o Estado e transparente, pois não actuamos debaixo da mesa”, assegurou, admitindo, contudo, que a ANF poderá ser “um mau exemplo, porque modernizamos o sector, temos políticas agressivas, somos um parceiro incómodo e sempre defendemos, por exemplo, a prescrição por DCI, o que não agrada à indústria farmacêutica.”

"Declarações levianas..."

Neste sentido, insinuou que “o poder no sector do medicamento não está na nossa associação, mas sim, em quem está calado e actua de forma subterrânea. São os embaixadores de países que têm farmacêuticas, são as visitas ao estrangeiro do Chefe de Estado ou do primeiro-ministro à indústria farmacêutica e a centros de investigação.” João Cordeiro considerou ainda que os laboratórios actuaram de forma “muito inteligente, conseguindo transmitir através de uma máquina admirável (a propaganda médica) a ideia de que a ANF é um lóbi perigoso.”

Ao que o Farmacia.com.pt conseguiu apurar, a Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica (Apifarma) terá reivindicado que o dirigente da ANF concretize as afirmações que caracterizou como “gratuitas, ligeiras, levianas e não fundamentadas.”

No que concerne às insinuações de que as visitas do primeiro-ministro e do Presidente da República ao estrangeiro servem para a indústria farmacêutica pressionar Portugal, a Apifarma também exige explicações: “A acusação tem de ser justificada. O Dr. João Cordeiro não estará a sugerir que as agendas do Presidente e do primeiro-ministro são decididas pela Indústria Farmacêutica, pois não?”.

Raquel Pacheco
Fonte: Diário Económico/Apifarma/FarmaNews

Sem comentários: