quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Pílula do dia seguinte é vendida sem receita médica
Alerta para os efeitos do consumo abusivo

Portugal é um dos países em que a contracepção de emergência – a chamada "pílula do dia seguinte" – é actualmente comercializada nas farmácias sem exigência de receita médica, circunstância que poderá explicar em parte o fenómeno do seu crescente consumo. A utilização abusiva daquele método, no entanto, representa graves riscos para a saúde da mulher, segundo alertam médicos e farmacêuticos.

Uma única toma da pílula do dia seguinte equivale ao consumo de 15 comprimidos de uma vulgar pílula anticoncepcional, tendo em conta o volume ingerido do princípio activo do fármaco (levonorgestrel) e de progesterona, hormona que já foi encontrada na génese do cancro da mama de algumas raças de cadelas. Por este motivo, qualquer abuso na utilização da contracepção oral de emergência potenciará efeitos negativos assinaláveis, com tendência aumentar consoante as doses forem também aumentando.
O médico Daniel Pereira da Silva, membro da direcção da Sociedade Portuguesa de Ginecologia, sublinha que o "uso abusivo" da pílula do dia seguinte poderá aumentar não só o risco de desenvolvimento de um cancro da mama, mas também o de a mulher poder sofrer de problemas relativos à vasoconstrição (processo biológico contrário à vasodilatação, que corresponde à contracção dos vasos sanguíneos em consequência da contracção do músculo liso presente na parede desses vasos).
Os últimos estudos sobre contracepção oral de emergência indicam que os escalões etários entre os 15 e os 19 anos e entre os 20 e os 25 são aqueles em que há maior consumo, que tende a estabilizar-se quando a vida afectiva ganha contornos de maior permanência, e por regra se assume o uso de um método contraceptivo regular. Daniel Pereira da Silva planeia, a breve trecho, supervisionar uma acção de sensibilização em escolas secundárias da Região Centro, seguindo a orientação expressa em vários estudos realizados no Norte europeu, que atestam que a interiorização da mensagem é mais eficaz quando esta é passada por técnicos, por comparação com os professores, que tendem a usar uma linguagem paternalista e moralista.

Realidade espanhola
Há semanas que os ginecologistas e obstetras espanhóis se mostram convencidos de que a dispensa da contracepção de emergência sem exigência de apresentação de receita médica pode ser a chave para travar o progressivo número de intervenções de interrupção voluntária da gravidez no país. Considerando que a pílula do dia seguinte é um método contraceptivo sem efeitos secundários assinaláveis (os dados agora apontados em Portugal parecem não convencer os médicos do país vizinho), e não um medicamento abortivo, entendem que um uso mais generalizado poderia ser positivo.
Apontando como exemplos os Estados Unidos, a França ou o Reino Unido, onde a comercialização do produto também não pressupõe a obrigatoriedade de um receituário, os profissionais de saúde espanhóis pedem que a população seja mais bem informada sobre contracepção e o uso adequado da chamada pílula abortiva, e que a mesma seja dispensada sem necessidade de receita, preconizando também uma maior aposta na sua distribuição, de forma a torná-la acessível junto de comunidades onde até agora não tem sido, sobretudo ao fim-de-semana, a altura em que é mais requisitada.

Carla Teixeira
Fonte: Agência Lusa, Saúde na Internet, El Pais, PortalFarma, Wikipédia

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