quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Investigação lipídica pode «dar luz» a tratamentos

Químico holandês destaca importância da sinalização celular dos lípidos na investigação de doenças e ao serviço da saúde

Trazer novas soluções (terapias) para velhos problemas (doenças) através do estudo dos lípidos foi o desafio lançado, no Porto, pelo químico Gerrit Van Meer da Universidade de Utrecht, na Holanda.

O investigador falava no âmbito do «V Simpósio Internacional da Sociedade Portuguesa de Doenças Metabólicas» - que decorreu, esta semana, no Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC) - onde destacou a importância da biologia lipídica (cellular lipidomics) na descoberta de respostas.

Ao considerar que “ainda há muito a saber” face à importância da sinalização celular dos lípidos, Van Meer exemplificou: "Depois de 40 anos de investigação e de uns quantos Prémios Nobel ainda não sabemos exactamente onde o colesterol está na membrana celular e como se move" sublinhando que "a doença de Alzheimer tem uma componente ligada ao colesterol (um esteróide).”

Reforçando que “o estudo lipídico tem um papel fundamental ao nível da investigação em doenças”, o químico holandês defendeu “um maior investimento no desenvolvimento de tecnologias capazes de estudar nessa área” e “fortalecer as ligações entre quem desenvolve essas tecnologias e a comunidade que investiga os lípidos.”

Para Gerrit Van Meer, é também de extrema importância "harmonizar todas as práticas ao nível da lipídica na União Europeia, de forma a conseguir uma padronização dos métodos de análises lipídicas", acrescentando que urge, igualmente, criar de uma rede de centros de investigação em lipídica “para que o conhecimento detido por cada um seja mais facilmente acessível e disponível”, sustentou.

Na opinião do especialista, “não basta formar pessoas boas em genómica, em investigação ou em lipídica”, advogando, por isso, o investimento em capital humano, “pessoas que saibam quais são as necessidades de clínicos, das indústrias e da academia," frisou.

Lipídica (ou lipidómica) é um subgrupo da metabolómica que quantifica e caracteriza todos os lípidos existentes nas células e nos organismos com o objectivo de determinar os mecanismos moleculares pelos quais os lípidos actuam.

Dos oito tipos de lípidos já identificados, destacam-se três classes principais: os glicerolípidos (65% de todos os lípidos que compõem as membranas), esfingolípidos (cerca de 10% de todos os lípidos constituintes nas membranas) e os esteróides (25%).

Relativamente aos esfingolípidos, Jairaj Acharya, do Instituto Nacional do Cancro de Frederick, nos Estados Unidos, esclareceu que são componentes estruturais do plasma e da membrana. Afectam processos de secreção de proteínas e de endocitose (processo de transporte de macromoléculas para o interior das células eucarióticas).

Raquel Pacheco

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