quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Medicamentos personalizados preocupam população

Estudo revela que há quem prefira ignorar predisposições genéticas

A possibilidade dos medicamentos virem a ser prescritos de forma personalizada está a causar preocupações junto da população. Um estudo financiado pelo Conselho de Investigação Social e Económica do Reino Unido (ESRC na sigla inglesa) revela que há quem prefira manter-se na ignorância relativamente às suas susceptibilidades genéticas ou mesmo à probabilidade de vir a desenvolver determinada doença, como o cancro.

Brian Wynne, professor e director associado do Cesagen, um dos três centros de investigação da Rede de Genómicos do ESRC, realizou um inquérito para determinar a opinião do público acerca da utilização dos testes genéticos com vista à prescrição e desenvolvimento de fármacos. Wynne e Elisa Pieri concentraram-se em questionar camadas da população cuja opinião é por vezes difícil de obter, como os idosos, os jovens e os pais com crianças pequenas, bem como os membros de comunidades étnicas.

Os resultados salientam as fortes preocupações, incómodos e responsabilidades a que poderiam estar sujeitas as pessoas face à possibilidade de descobrirem o que o futuro lhes reserva em termos genéticos.

“Contrariamente ao que muitas vezes se escreve acerca dos medicamentos personalizados, os membros da população frisaram o quanto essas opções provocariam impacto e tensão no seio das famílias, ao mesmo tempo que poderiam conduzir à estigmatização”, afirmou Wynne. De acordo com o investigador, os inquiridos receiam também que tal hipótese venha a barrar-lhes o acesso a serviços chave, como os seguros, hipotecas, cobertura médica e oportunidades de emprego.

A possibilidade de avaliar as predisposições genéticas de um indivíduo para uma determinada doença é, sem dúvida, algo de positivo. O que o estudo sublinha é que, na prática, esta possibilidade pode vir a levantar problemas de carácter ético.

O termo “medicamentos personalizados” não se refere apenas aos testes de predisposição genética mas também à utilização de informação genética para a prescrição de medicamentos, ou combinação de fármacos que vão mais eficazes no tratamento da doença de um paciente específico.

Vários fármacos actualmente comercializados vêm já acompanhados de testes de diagnóstico para verificar se o doente está apto à administração dos mesmos, é o caso do Herceptin (trastuzumab), produzido pela Genentech.

Apesar da hipótese agradar a muitas pessoas, há ainda quem tenha dúvidas e os resultados demonstram que a indústria farmacêutica e os cientistas têm um logo caminho a percorrer para assegurar que os testes genéticos possam ser utilizados de acordo com os preceitos éticos de forma a garantir à população que os devem realizar.

Ainda que as suspeitas de estigmatização associadas a este procedimento sejam postas de parte, permanece ainda a questão dos custos. Os participantes deste inquérito consideram que a condição social e financeira de cada indivíduo terá relevância na concretização efectiva das alterações aos estilos de vida e ao tratamento sugeridos pelos testes.

Marta Bilro

Fonte: OutSourcing-Pharma.com, Politics.co.uk.

Sem comentários: