quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Portugal já importou 50 unidades de sangue umbilical para transplantes

quarta-feira Isabel Leal Barbosa, investigadora do Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto, que falava na Universidade Fernando Pessoa, no Porto, durante o V Simpósio de Análises Clínicas e Saúde Pública.

De acordo com esta investigadora, apenas seis unidades de sangue colhidas nos IPO (quatro no de Lisboa e duas no do Porto) foram utilizadas para transplantes em familiares dos dadores, pelo que foi necessário recorrer a dadores estrangeiros.

No IPO do Porto as colheitas de sangue do cordão umbilical realizam-se desde 1993 e desde 1998 que as amostras passaram a ser congelada. No entanto, apenas as grávidas que tenham familiares com indicação para transplante ("dádivas dirigidas"), maioritariamente crianças com leucemia, costumam pedir a colheita do sangue umbilical.

Segundo Isabel Leal Barbosa, das dezenas de unidades congeladas pelo IPO/Porto, só duas foram utilizadas em transplantes, por se terem revelado compatíveis com o sangue dos familiares doentes. Por este motivo, a investigadora defende a criação de um banco público de sangue de cordão umbilical, tal como foi proposto pelo IPO do Porto e pelo Centro de Histocompatibilidade.

A proposta apresentada ao Ministério da Saúde pelo IPO do Porto e pelo Centro de Histocompatibilidade visa a criação de um banco público de sangue do cordão umbilical, o Lusocord, onde será feita a colheita e o congelamento, gratuito, de "dádivas não dirigidas" de sangue de cordão umbilical, perdendo a grávida qualquer direito sobre essas células estaminais, uma vez que serão destinadas a qualquer doente compatível.

"Pretendemos não estar tão dependentes do estrangeiro", afirmou a investigadora, referindo que a entrada em funcionamento do Lusocord está dependente apenas da aprovação pelo Ministério da Saúde e Alta Autoridade para a Transplantação.

Isabel Leal Barbosa adiantou ainda que assim que a criação do Lusocord seja aprovada, será lançada uma ampla campanha de apelo à dádiva altruísta de sangue de cordão umbilical, pois o objectivo é chegar às 5.000 unidades de cordão umbilical congeladas, quantidade mínima para que o processo seja "economicamente viável".

"A manutenção de um banco de sangue é cara. Precisamos da ajuda de mecenas e do Ministério da Saúde", afirmou Isabel Barbosa, acrescentando que cada colheita e congelação custa cerca de 500 euros, sem contar com o equipamento e a sua manutenção.

A investigadora garante que "não há concorrência" entre os bancos públicos dos vários países, porque "os preços são estabelecidos internacionalmente" pelo Netcord, que escolhe o dador que, a nível mundial, é o mais compatível, independentemente do local onde esteja.

Contudo, até à criação do Lusocord, a grávida que quiser congelar o sangue do cordão umbilical tem de recorrer aos "vários bancos privados" que têm surgido em Portugal, que muitas vezes fazem "grande publicidade" à colheita de sangue do cordão umbilical, apresentando-a como "seguro de vida" para o próprio e não como uma dádiva altruísta para qualquer ser humano que venha a precisar daquelas células, critica a investigadora do IPO/Porto.

Isabel Leal Barbosa disse esperar que Portugal venha a alcançar um nível de dádivas altruístas de sangue de cordão umbilical semelhante ao registado pela medula óssea, uma vez que somos já o terceiro pais na Europa com mais dadores de medula óssea, uma posição que foi alcançada em apenas quatro anos.

Inês de Matos

Fontes: Lusa, Diário Digital

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