quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Rinite alérgica: Dois terços das crianças estão por diagnosticar

Regiões de Lisboa e Vale do Tejo apresentam maior taxa de prevalência da doença

Dois terços das crianças entre os três e os cinco anos de idade que sofrem de rinite alérgica estão por diagnosticar e consequentemente por tratar, revela o estudo ARPA KIDS levado a cabo pela Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC) e que envolveu a participação de 5.018 crianças.

Entre as crianças em idade pré-escolar, 21,5 por cento apresentavam queixas de rinite no último ano, mas destas apenas 35,8 por cento estão diagnosticadas e 36,5 por cento medicadas, revelou Mário Morais de Almeida, presidente SPAIC e um dos autores do estudo.

Os resultados deste trabalho demonstraram também que 79 por cento das crianças sofria de formas intermitentes da doença e 21 por cento de casos persistentes, ou seja com sintomas nasais em mais de quatro dias por semana ou mais de quatro semanas por ano. As diferenças entre rapazes e raparigas são quase inexistentes, ao contrário do que se verifica entre as populações adolescente e adulta, nas quais a prevalência é superior entre as mulheres.

“Habitualmente aponta-se a infância como o período de início das alergias, mas ainda não existia uma medição e foi o que quisemos fazer. Esta é uma doença transversal a todos os grupos etários, mas quanto mais cedo se trata o problema, mais se evitam infecções graves e doenças relacionadas como a asma», afirmou o especialista em declarações à agência Lusa.

A desvalorização dos sintomas por parte dos próprios doentes leva muitas vezes à ausência de diagnóstico. “As pessoas parecem não achar estranho que as suas constipações existam no Inverno e continuem na Primavera e Verão. Há uma falta de reconhecimento e, quando se queixam ao seu médico assistente de sintomas como infecções, febres, dores de cabeça ou nariz constantemente congestionado, acaba por se apagar um incêndio, mas não se resolve um problema muito mais grave”, frisou.

As crianças com rinite são também um alvo fácil para a prevalência de outros problemas como a asma, alergias alimentares e a medicamentos, salientou o especialista. As conclusões do inquérito mostram que 25 por cento das crianças com rinite sofreu um episódio de falta de ar ao nível dos brônquios no último ano e 10 por cento de quatro crises.

Segundo explicou o mesmo responsável, apesar da doença poder ter antecedentes familiares, os pais podem não reconhecer os mesmos sintomas da patologia nos seus filhos e não associam as dificuldades em dormir e o facto de as crianças acordarem cansadas ou ressonarem à patologia crónica.

É nas regiões urbanas de Lisboa e Vale do Tejo (40 por cento) que a doença mais prevalece, por oposição à zona do Alentejo, com apenas 8 por cento, mas onde as queixas são mais persistentes. “Há uma menor percentagem no Alentejo, mas maior gravidade”, sublinhou o responsável, indicando que há 76,9 por cento de situações persistentes, das quais 48 por cento são moderadas ou graves.

Apesar de não desprezar a necessidade de sub-estudos nesta região para melhor avaliar a situação, Mário Morais de Almeida considera que a exposição marcada ao pólen pode ser a responsável pela persistência das queixas. No que toca à rinite intermitente ligeira os valores mais elevados encontram-se no Algarve, com 82,4 por cento.

Os autores sublinham, por isso, a necessidade de uma “actuação proactiva, alertando a comunidade médica e a sociedade em geral, de modo a reconhecer e a controlar precocemente as patologias alérgicas, fonte de significativo impacto pessoal e social”.

Marta Bilro

Fonte: Diário Digital, Lusa, Farmacia.com.pt.

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