segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Antidepressivo aumenta longevidade de vermes

Mianserina prolongou em um terço o tempo de vida de nematóides; investigadores decididos agora a testar mamíferos

Uma equipa norte-americana de investigadores analisou os efeitos de um antidepressivo na duração de vida de um grupo de vermes (nematóides) e observou o aumento da longevidade em um terço. O resultado abriu uma nova esperança e apontou o próximo passo: verificar se o medicamento tem o mesmo efeito em ratos.

De acordo com o estudo publicado na revista «Nature», os cientistas do Centro de Pesquisa para o Cancro Fred Hutchinson, em Seattle (EUA), concluíram que um antidepressivo (mianserina), comummente utilizado, prolongou a longevidade de um nematóide em quase 30%.

Segundo explicaram os investigadores, foram testados os efeitos de 88 mil tipos de substâncias químicas no nematóide C.elegans (Caenorhabditis elegans). “Concluiu-se que o antidepressivo é capaz de aumentar a esperança de vida destes vermes, pois comprovou-se que o fármaco mianserina possui efeitos contra a idade nestes nematóides de modo semelhante aos obtidos pela restrição calórica.”

Para sustentar o uso destes parasitas, a equipa de Seattle esclareceu que o organismo dos nematóides assemelha-se ao do homem em muitos aspectos, “possuem um sistema nervoso central e órgãos sexuais”, acrescentando o facto de a vida média do C.elegans ser “de algumas semanas” sendo, por isso, “preferido para estudos sobre longevidade.”

Um terço de "bónus de vida" - até aos 120 anos?

A mianserina inibe os efeitos da fome no cérebro, mas os cientistas ainda não compreenderam porque razão a ingestão mínima de calorias pode aumentar a longevidade. A realidade é que, ao ser administrada, a mianserina proporcionou um aumentou no tempo de vida em, aproximadamente, um terço. Para um verme, é uma semana de “bónus” mas, se traduzido para um ser humano, seria algo como se sua expectativa de vida saltasse de 90 anos para 120 anos.

Linda Buck, autora da investigação – juntamente com Michael Petrascheck, Xiaolan Ye - acredita que a descoberta de uma substância que aumenta a longevidade nos nematóides “pode levar à revelação de genes nos seres humanos que poderão ser manipulados para se obter o mesmo efeito.”

A investigadora está convicta que "poderá ser possível identificar novos genes que actuem no processo de envelhecimento”, frisando que, poderão ainda ter a possibilidade “de encontrar medicamentos mais apropriados para o teste em mamíferos."

Na opinião da equipa norte-americana, o medicamento parece reproduzir no organismo os efeitos do único mecanismo capaz de aumentar a vida de um animal - a fome.

Entretanto, urge entender os motivos pelos quais a mianserina imita os efeitos da fome no cérebro. Linda Buck avançou uma hipótese: “É possível que o medicamento tenha interferido no equilíbrio entre duas substâncias químicas cerebrais que ajudam o nematóide a decidir se existe alimento suficiente para justificar a deposição de ovos. Isso pode produzir um estado de fome perceptível, mas não real", referiu.

Por seu turno, Michael Petrascheck apontou a descoberta como “um bom avanço”, não só pelo efeito da mianserina no C. elegans, mas também, pela forma como o faz. “Ao que parece, ela bloqueia a acção de uma substância natural que serve como sinalizador químico do organismo: a serotonina”, enfatizou, argumentando que é sabido que essa molécula “também está envolvida nos mecanismos que induzem à alimentação no organismo.”

Em declarações ao farmacia.com.pt, o psiquiatra Jorge Lume, avaliou o estudo com alguma apreensão pela eventualidade de “um cenário descontrolado em que as pessoas comecem a tomar antidepressivos na esperança de viver mais", advertindo que "o mianserin tem efeitos colaterais já reportados que podem muito bem ter o efeito oposto."

O certo é que, desde sempre, o ser humano procura a chave para aumentar o seu tempo de vida. Neste sentido, os investigadores adiantaram que o próximo passo será analisar o efeito da substância em ratos (animais mamíferos como o Homem).

Raquel Pacheco


Fonte: Nature/AFP/contacto telefónico

Sem comentários: