sábado, 16 de junho de 2007

Cirurgia bariátrica propicia embriaguez

As pessoas que se submeteram a uma cirurgia bariátrica (ou cirurgia de banda gástrica) com o objectivo de reduzir o peso são mais susceptíveis à embriaguez aquando da ingestão de bebidas alcoólicas e demoram mais tempo a ficar sóbrias, revela uma investigação da “Stanford University School of Medicine”.

O estudo, apresentado durante o encontro anual da Sociedade Americana de Cirurgia Bariátrica, em San Diego, na Califórnia, esteve a cargo de John Morton, professor de cirurgia e director do departamento de cirurgia bariátrica na “Stanford University School of Medicine”, e será divulgado no jornal “Surgery for Obesity and Related Diseases”, a publicação oficial da Sociedade Americana de Cirurgia Bariátrica (SOARD).

De acordo com os especialistas, a colocação de um bypass gástrico altera o metabolismo do álcool, originando picos muito elevados e efeitos prolongados sem aumentar os sintomas.

Nos casos analisados, entre os pacientes submetidos a uma cirurgia bariátrica, a concentração de álcool no sangue atingiu um máximo superior em 0.03 por cento e demorou mais 40 minutos a dissipar-se relativamente aos indivíduos que não foram submetidos a tal procedimento cirúrgico.

O estudo vem confirmar algo que já levantava suspeitas na mente de alguns cirurgiões, salientou o principal responsável pela investigação que diz ter-se inspirado no programa televisivo de Oprah Winfrey no qual foram relatados casos de pessoas submetidas à cirurgia e que alertava para os perigos da ingestão de álcool por parte desses pacientes.

Este especialista, que já esteve envolvido em mais de mil cirurgias de banda gástrica, adverte que “a ingestão de álcool após a colocação de um bypass gástrico deve ser feita com precaução”.

Alguns dos pacientes que assistiram ao programa dirigiram-se ao gabinete de Morton e revelaram que sentiam uma absorção do álcool mais rápida depois de se terem submetido à cirurgia de banda gástrica. Esta alteração relatada pelos pacientes, aparentemente estaria a causar-lhes uma “transferência do vício” na qual tinham deixado de ingerir alimentos compulsivamente para passarem a fazê-lo com o álcool.

“Sempre aconselhámos os pacientes a serem cuidadosos com a ingestão de álcool após a cirurgia”, afirmou Morton, acrescentando que ficou “surpreendido ao aperceber-se que não havia muito trabalho desenvolvido acerca dessa questão”.

Todos os factores envolvidos no metabolismo do álcool, tais como o peso, a função hepática, a ingestão de alimentos e a produção da enzima álcool desidrogenase, sofrem “alterações profundas” após a cirurgia bariátrica, explicou o investigador. Porém, havia um único estudo anterior de origem sueca tinha analisado o assunto e apenas com a participação de 11 mulheres.

Na tentativa de dar resposta às preocupações dos pacientes, Morton constatou que havia poucas provas científicas acerca do assunto e convidou Judith Hagedorn, estudante da “Stanford University School of Medicine” para o acompanhar no desenvolvimento da investigação.

A equipa de cientistas reuniu 19 pacientes que tinham sido submetidos à colocação de um bypass gástrico e 17 voluntários com características semelhantes relativamente à idade, ao peso e ao género mas que não tinham realizado uma cirurgia bariátrica. Cerca de 20 por cento dos participantes de ambos os grupos eram do sexo masculino, com padrões e historiais semelhantes relativamente à ingestão de álcool. No entanto, o grupo de participantes do primeiro grupo tinha uma média de idades mais elevada (cerca de 47 anos, contra a média de 37 anos do segundo grupo), e tinha menos peso (90,7 kg, contra 67,9 kg).

Foi distribuído pelos dois grupos de participantes um copo com cerca de 15 centilitros de vinho tinto que teve de ser ingerido dentro de 15 minutos. Posteriormente foi medido o nível de álcool no sangue através do hálito a cada cinco minutos até atingir o zero.

Os resultados desta análise mostraram que os pacientes submetidos à cirurgia bariátrica atingiram um máximo de 0.08 por cento de álcool contabilizado através do hálito, relativamente aos 0.05 por cento registados no outro grupo de participantes. Para além disso, o teste de controlo do nível de álcool através do hálito demorou, em média, 108 minutos para voltar ao zero no primeiro grupo de pacientes, enquanto no grupo de voluntários se registou apenas uma demora de 78 minutos.

Face aos resultados, Morton foi obrigado a concluir que os pacientes com bypass gástrico sofreram uma alteração relevante no metabolismo alcoólico. “Eles atingem o limite mais rapidamente e demoram mais tempo a normalizar”, alertou o especialista, salientando que os pacientes não têm consciência desta questão.

É possível que o facto da viciação em alimentos se ter transformado numa dependência alcoólica esteja relacionado com outras alterações psicológicas inerentes à realização da cirurgia, particularmente da diminuição da enzima álcool desidrogenase, responsável pelo metabolismo alcoólico que se encontra com frequência no fígado e no estômago.

Os investigadores consideram também a possibilidade desta ser uma consequência do divertimento social experienciado aquando da ingestão de álcool. O álcool diminui a tonificação muscular no esfíncter esofagiano inferior, esvaziando o estômago mais rapidamente, e potencialmente causando uma sensação de apetite no paciente que derivado dessa situação volta a comer com demasiada antecedência.

Marta Bilro

Fonte: Medical News, CBS News, Med Page, Earth Times

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