quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Mutação de gene pode explicar Síndrome de Down

Investigadores do Porto descobrem nova função do BubR1 e acreditam que "erro" pode desencadear doença

A Síndrome de Down pode estar perto de ser descodificada. O mérito será atribuído a um estudo conduzido por investigadores do Porto e dos Estados Unidos que permitiu explicar como é que um gene contribui para a separação correcta dos cromossomas . Os cientistas acreditam que a mutação desde gene está relacionada com o aparecimento da doença.

O estudo – publicado hoje no Current Biology online – foi conduzido por cientistas do Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC), da Universidade do Porto, em parceria com um grupo nos Estados Unidos e sugere que o gene, BubR1 (cuja função é influenciar a divisão celular, ou seja, dos cromossomas na formação das células germinais, isto é, dos óvulos e do esperma) pode estar relacionada com o aparecimento da Síndrome de Down.

A descoberta a destacar refere-se a uma outra função (até agora desconhecida) deste gene: “manter os cromossomas estáveis quando estes se organizam em pares, no momento imediatamente anterior à produção das células sexuais ou gâmetas”, anunciaram.

Segundo explicaram os cientistas, o estudo incidiu na utilização das moscas da fruta (Drosophila) como modelo biológico, sublinhando o facto positivo de estes insectos terem apenas quatro pares de cromossomas e a sua distribuição durante a «meiose» - divisão celular que leva à produção de gâmetas - ser distinta entre machos e fêmeas.

Os investigadores do IBMC e da Virgínia relataram que, através da comparação da divisão das células de moscas com gene normal com a de moscas com mutação, concluíram que o BubR1 tem como objectivo manter a estabilidade entre os cromossomas “e se há distribuição anormal de cromossomas, pode provocar doenças como a Síndrome de Down”, frisaram.

Função de "polícia"
“A função do gene é de 'polícia'. Quando as coisas não estão a correr correctamente, ele vai fazer parar a célula e dar tempo para que esta consiga corrigir o erro, mas quando ele (BubR1) não está 100 por cento, constatámos que as fêmeas dão origem a filhos que têm alterações no número de cromossomas de uma forma muito semelhante à das características biológicas de doentes com a Síndrome de Down”, clarificou à TSF Cláudio Sunkel, um dos investigadores do IBMC envolvido no estudo que já decorria há quatro anos.

Embora as experiências tenha sido feito em moscas da fruta, os especialistas garantiram que “os resultados podem estender-se à espécie humana", uma vez que, "também é portadora deste gene”, reforçando acreditarem que “uma mutação deste gene pode provocar o mesmo erro nas células sexuais que aquele que origina a Síndrome de Down, por isso, agora já é possível compreender a doença.”

Portugal: entre 150 a 180 por ano
Síndrome de Down ou trissomia do cromossoma 21 é um distúrbio genético causado pela presença de um cromossoma 21 extra total ou parcialmente. A incidência da síndrome de Down é estimada em 1 a cada 800 ou 1000 nascimentos. Por ano, nascem em Portugal entre 150 a 180 crianças portadoras da doença, também conhecida como trissomia 21 ou mongolismo.

Raquel Pacheco
Fontes: Current Biology/Agência Lusa/Sol/TSF

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