terça-feira, 28 de agosto de 2007

Herpes ocular exige tratamento imediato
Médico recuperou visão de doente com cola


O herpes simplex, vírus comum cuja presença se manifesta através de pequenas lesões e úlceras nos lábios, pode também acometer o nariz e os olhos, neste caso provocando uma gradual perda de visão se não for tratado atempada e convenientemente. A dor nas pálpebras e a inflamação da córnea são os sinais mais comuns da doença, que reincide em momentos de baixa imunidade do doente ou diante de situações de maior stress. No Brasil um médico selou o olho de uma paciente com cola de cianoacrilato.

A técnica aplicada pelo médico Leôncio Queiroz Neto, oftalmologista do Instituto Penido e director clínico do do Banco de Olhos de Campinas, na sua paciente Nelida Gomes de Lorenzo, que fora acometida de herpes ocular, evita complicações cirúrgicas e permite o isolamento do olho sem perda do sinal de perfuração da córnea que prioriza a realização do transplante. Foi exactamente por isso que o especialista escolheu esta técnica, tendo em conta que “o cianoacrilato serve de apoio ao crescimento de tecido cicatricial sobre a área perfurada, retarda a necrose e tem ação bactericida”. Neste caso “a perfuração não atingiu três milímetros, que corresponde às dimensões máximas para aplicação daquela cola, que em áreas maiores revela toxicidade.
De acordo com Leôncio Queiroz Neto, o vírus do herpes surge por volta dos cinco anos, mas permanece na sua forma latente, podendo ser accionado através do contacto com um portador, por uma situação de grande stress ou em momentos de quebra do nível de imunidade no organismo. Dor nos olhos, lacrimejamento, sensibilidade à luz e redução da acuidade visual são os principais sintomas da doença, que pode ser “alimentada” por traumas, febres e resfriados, causando inflamações na córnea. A reincidência das crises tem como consequência a cada vez menor expessura da córnea, que pode provocar a formação de cicatrizes e a perfuração, levando à cegueira.
Dias depois de ter sido submetida a esta técnica, Nelida foi submetida a um transplante e recuperou a visão, apesar de o olho não estar ainda totalmente curado. De acordo com Queiroz Neto, a utilização da cola de cianoacrilato poderia ter sido acompanhada da realização de um transplante tectónico – “espécie de curativo biológico feito com uma córnea descartada por não ser adequada para restituir a visão à receptora” – e do recobrimento conjuntival. O problema, explica, é que “o transplante tectónico é muito mais invasivo, porque pode gerar maior número de procedimentos ou aumentar o risco de cataratas, tem uma forte reação inflamatória e a recuperação para o transplante definitivo demoraria, no mínimo, 15 dias. Já a recuperação do recobrimento conjuntival pode variar entre seis a oito meses, período em que a doente ficaria com o olho branco, e teria dificuldades em voltar às suas actividades quotidianas, correndo ainda o risco de ficar em fila de espera por uma córnea, já que o sinal de perfuração poderia desaparecer apesar do comprometimento da visão.

Vírus latente
O herpes é um vírus que tem capacidade para permanecer no organismo durante vários anos sem ser detectado. “Uma vez que o paciente entrou em contacto com o vírus, as feridas poderão surgir sempre que estiver com baixa imunidade ou passar por situações física e emocionalmente stressantes”, explica o oftalmologista Renato Neves, director da rede Eye Care. O tratamento imediato das manifestações do herpes simplex é feito com medicamentos antivirais, que travam a replicação do vírus e a consequente destruição das células epiteliais. A infecção pode atingir camadas profundas da córnea e agravar o quadro clínico. “Repetidas ocorrências dessas manifestações agressivas podem levar à perda de visão”, reitera aquele especialista.
Renato Neves explica que “o vírus do herpes simplex é diferente do herpes associado à doença sexualmente transmissível”, pelo que o chamado herpes ocular não se transmite por aquela via. “Também é importante diferenciá-lo do herpes zoster, que tem sintomas semelhantes, mas é provocado pela varicela”. Mais de metade da população mundial é hospedeira daquele vírus e já teve pelo menos uma crise. Actualmente existem diversos meios de tratamento de todas as formas da doença, através do recurso a antibióticos, comprimidos ou colírios. Nos casos mais graves há ainda a possibilidade de transplante da córnea. Apesar de totalmente tratável, a comunidade científica ainda investiga a cura para a doença.

Carla Teixeira
Fonte: Mail do farmacia.com.pt, Segs.com.br, MedCenter, «Saúde News Journal»

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