terça-feira, 28 de agosto de 2007

Polémica em torno da IVG nos centros de saúde
Médicos temem banalização do aborto


A realização de interrupções voluntárias da gravidez pelo método medicamentoso nos centros de saúde poderá “banalizar o que não deve ser banalizado”. O aviso é do bastonário da Ordem dos Médicos, para quem a medida pode fomentar o facilitismo e o abandono da contracepção.

O bastonário da Ordem dos Médicos defendeu que realizar interrupções voluntárias da gravidez medicamentosas em centros de saúde “pode banalizar o que não se deve” e acarreta responsabilidades para os médicos de família para as quais não foram preparados. A posição de Pedro Nunes é oposta à defendida pelo presidente do Colégio da Especialidade Ginecologia/Obstetrícia da Ordem, Luís Graça, para quem cerca de 90 por cento das IVG químicas, “tirando os 10 ou 12 por cento de casos eventualmente problemáticos”, deveriam ser realizados em centros de saúde, porque é lá que estão os “médicos que melhor conhecem a população”, e por se tratar de um acto médico simples.
O presidente da Comissão de Saúde Materna e Neonatal, Jorge Branco, afirmou que, além do centro de saúde de Viana do Castelo, mais “três ou quatro” estabelecimentos do Norte do País deverão começar a efectuar abortos a pedido da mulher em Setembro. Até final do ano a IVG medicamentosa será feita em centros de saúde de outras regiões. O bastonário considera que a realização de abortos fora dos hospitais é má em vários aspectos: “Estimula as pessoas a considerar banal o que não deve ser banal, impõe uma pressão sobre os médicos de família insustentável, obrigando-os a assumir responsabilidades para as quais naturalmente não foram treinados, ao mesmo tempo que a proximidade face ao doente dificulta-lhes a alegação de objecção de consciência, ao contrário de um médico hospitalar”.
Todos os “mecanismos convergem para uma eventual facilitação da IVG”, frisou Pedro Nunes, considerando que “a OM defende que o que deveria ser feito, para cumprir a legislação e a vontade dos portugueses, era continuar a definir a IVG como algo negativo que pode servir para resolver um acidente, e não como algo banal, fácil, acessível, que está ao pé da porta e que resolve todos os problemas. Assim, os baixos níveis de contracepção serão ainda mais baixos”, vaticinou. “A OM vê com preocupação que possa haver um aumento dos riscos, e lembra que tem de haver uma articulação perfeita entre serviços de medicina geral e familiar e serviços hospitalares”, vincou o responsável. Já Luís Graça considerou que os abortos deveriam cingir-se aos hospitais “até que fosse atingida uma determinada consistência”, mas contrapôs que, na medida em que “a lei apenas prevê a IVG apenas até às 10 semanas, e em casos que não levantem problemas, os abortos devem ser feitos nos centros de saúde, que contam com a complementaridade dos serviços hospitalares”.

Carla Teixeira
Fonte: Agência Lusa

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