quinta-feira, 4 de outubro de 2007

APF: Portugal apresenta falhas no rastreio ao cancro do colo do útero

Numa altura em que tanto se fala na importância da prevenção, a Associação para o Planeamento da Família (APF) alerta para o facto de Portugal estar a falhar no rastreio ao cancro do colo do útero. Apesar dos testes de despistagem estarem à disposição de todas as mulheres portuguesas de forma gratuita, apenas a região Centro do país tem obtido resultados positivos.

“Só não faz quem não quer”, salienta Maria João Trindade, responsável da APF, “trata-se de um exame gratuito contemplado pelo Plano Nacional de Saúde. É um direito de todo o cidadão português, todos nós podemos e devemos exigir”, acrescentou. Para além disso, a realização do rastreio exige apenas um simples exame ginecológico.

As falhas registadas derivam do “mau funcionamento dos serviços”, nomeadamente porque há falta de recursos humanos na área dos cuidados primários de saúde, considera Maria João Trindade. Ainda assim, na zona Centro há bons resultados, visto que, segundo referiu, é muito raro surgir no IPO (Instituto Português de Oncologia) de Coimbra um carcinoma invasivo.

Aconselhado a todas as mulheres entre os 25 e os 64 anos, o rastreio do cancro do colo do útero pode ser feito no centro de saúde, porém é um exame (citologia) que “sai muito caro ao Serviço Nacional de Saúde”. Apesar disso, o tipo de análise de rastreio ao cancro do colo do útero em Portugal é mais barato do que outra técnica mais avançada já em utilização noutros países - o teste do víruso do Papiloma Humano (HPV).

A principal diferença é que a citologia usada em Portugal tem uma “taxa de sensibilidade mais baixa” do que o teste do HPV, como precisou Daniela Pinto, investigadora do IPO do Porto, a participar no Eurogin - congresso europeu sobre cancro do colo do útero, a decorrer em Monte Carlo, citada pela agência Lusa.

Apesar de admitir que o país não tem capacidade financeira para tal, Maria João Trindade considera que o “ideal” seria incluir a vacina contra o HPV no Programa Nacional de Vacinação. “Uma taxa de 37 por cento de comparticipação da vacina (que no total das três tomas custa 480 euros) já seria razoável”, disse.

Por outro lado, refere Maria João Trindade, há o risco de que uma imunização universal leve as pessoas a descuidarem o rastreio, que deve ser realizado anualmente nos primeiros dois anos e, caso não sejam detectados problemas, pode passar a ser feito com intervalos de três anos.

Actualmente existem duas vacinas contra o cancro do colo do útero, o Gardasil da Merck, e o Cervarix, produzido pela GlaxoSmithKlin, sendo que, de momento, apenas a primeira está disponível no mercado Português. O elevado preço da vacina torna-a inacessível a muitas mulheres portuguesas, pelo que a Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde está já estudar uma possível comparticipação do medicamento.

Portugal é um dos países da União Europeia onde as taxas de incidência do cancro do dolo do útero são mais elevadas, com perto de 17 casos por cada cem mil habitantes. Anualmente são diagnosticados cerca de 960 novos casos.

Marta Bilro

Fonte: Diário Digital, Público, Farmacia.com.pt.

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