quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Lançamento trágico do talidomida foi há 50 anos

Fármaco da Grünenthal responsável por malformações congénitas; farmacêutica alemã ultrapassa passado dramático e substância renasce no mercado com a Celgene

Depois dos anos negros que se seguiram ao desastre do lançamento da talidomida – há precisamente 50 anos pela Grünenthal e que causou malformações congénitas em mais de 10 mil crianças -, a farmacêutica alemã conseguiu relançar-se no mercado e tem um volume de vendas da ordem dos 700 milhões de euros, noticiou o jornal «Diário Económico».


A talidomida apareceu, há 50 anos, como o único medicamento capaz de acabar com a ansiedade, as insónias e aliviar os enjoos e a má disposição das mulheres grávidas. Contrariamente aos barbitúricos (muito usados naquela altura), o fármaco não apresentava contra-indicações, nem aparentes efeitos tóxicos, nem mesmo com o aumento gradual da dosagem. O certo é que, mais tarde, foi retirado do mercado apontado como responsável pelas malformações congénitas de mais 10 mil crianças. Estes desastres pessoais custaram à Grünenthal milhões gastos em indemnizações.


Desastre na génese da farmacovigilância

Na última década, a substância - (C13H10N2O4) apesar dos efeitos teratogénicos e de potencial risco - foi reintroduzida na literatura médica indicada para doenças graves e de prognóstico reservado. Aliás, ainda na década de 60, a talidomida reapareceu como uma alternativa no tratamento de várias doenças do foro dermatológico. Esta descoberta foi o ponto de partida para novos estudos sobre os efeitos da talidomida, sendo a sua administração para o tratamento do eritema nodoso leproso aprovada pela FDA em 1968. Hoje, diz-se que os problemas descobertos em 1961, marcaram a génese da farmacovigilância, desencadeando a regulação dos ensaios clínicos.

Do seu dramático passado, a substância renasceu para um futuro promissor. Actualmente este fármaco é comercializado pelos laboratórios Celgene com o nome comercial Thalomid. Mas os seus desastrosos efeitos teratogénicos obrigam a que a sua administração esteja sujeita a um apertado sistema de controlo pela FDA e pela Celgene, através de um «Sistema para a Educação sobre a Talidomida e Segurança da sua Prescrição» (STEPS na silga em inglês).


Apenas médicos registados no programa STEPS podem prescrever este medicamento com propriedades anti-angiogénicas, anti-inflamatórias e imunomoduladoras tem, hoje em dia, potencial utilidade em vários quadros clínicos, nomeadamente, em doenças reumáticas, neoplásicas, dermatológicas, hematológicas, inflamatórias, sida, caquexia, insuficiência cardíaca, meningite tuberculosa e outras.

Raquel Pacheco
Fonte: «Diário Económico»/www.ff.up.pt/Netfarma

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