quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Solução para a dor crónica pode estar na malagueta

Uma equipa de cientistas norte-americanos descobriu que a substância que faz com que as malaguetas sejam picantes consegue bloquear a dor quando combinada com um anestésico, sem prejudicar o movimento ou outras sensações como o toque.

O estudo foi esta semana divulgado pela revista Nature e contou com o financiamento dos National Institutes of Health (NIH - conjunto de institutos nacionais de saúde dos EUA).

Os investigadores acreditam que este tratamento pode ser usado em procedimentos cirúrgicos e até em crianças de berço, podendo ainda influenciar novos tratamentos para ajudar os milhões de pacientes que sofrem de dor crónica.

Os investigadores combinaram a 'capsaicin', a mesma substância que torna as malaguetas picantes, com uma droga chamada QX-314, derivada da lidocaína, um dos anestésicos locais mais utilizados.

Esta combinação explora uma característica única dos neurónios sensíveis à dor, de forma a bloquear a sua actividade sem danificar as funções das outras células, contrariamente ao que sucede com os analgésicos usados actualmente nas cirurgias, que obstruem a actividade de todos os tipos de neurónios causando torpor, paralisia e outras perturbações do sistema nervoso.

A lidocaína bloqueia os impulsos eléctricos em todas as células nervosas, aliviando assim a dor, sendo que, sozinho, o seu derivado QX-314 não consegue atravessar as membranas das células nervosas para bloquear a respectiva actividade eléctrica.

Contudo, ao combinar este anestésico com a 'capsaicin', os investigadores verificaram que droga abre poros na membrana das células nervosas, denominados canais TRPV1, que se encontram apenas nestas membranas, o que permite que o QX-314 passe, bloqueando assim selectivamente a actividade destas células.

A descoberta surge depois de diversos testes de laboratório, através dos quais os investigadores tinham já percebido que esta combinação aplicada em neurónios isolados de ratos levavam a que os animais conseguissem tolerar melhor o calor do que o habitual.

Posteriormente, procedeu-se à injecção da combinação junto ao nervo ciático dos animais e os ratos tratados não mostraram sinais de dor. Cinco de seis animais continuaram a movimentar-se e comportar-se normalmente, demonstrando assim que a droga pode parar a dor, sem bloquear os neurónios que controlam o movimento.

De acordo com os resultados dos testes, a droga demora cerca de meia hora para bloquear totalmente a dor em ratos e promove o alívio da dor durante várias horas.

Inês de Matos
Fonte: Sol

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