quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Psiquiatra americana lança livro que relaciona doença bipolar com criação artística

Foi hoje apresentado em Portugal o primeiro livro que explora a relação entre a doença bipolar e a criação artística. “Tocados pelo Fogo”, da autoria da psiquiatra americana Kay Redfield Jamison, revisita autores como Edgar Allan Poe, Lord Byron, Van Gogh e Virgínia Wolf, artistas bipolares "marcados pela genialidade e pela loucura".

O prefácio da edição portuguesa do livro pertence a José Manuel Jara, psiquiatra do Hospital Júlio de Matos, em Lisboa, para quem "as pessoas com uma vida mais agitada e temperamental, com relações afectivas muito intensas, são mais predispostas para a arte".

"A arte pode funcionar como uma reparação do equilíbrio perdido em consequência da variação de humor", característica da doença bipolar. Para José Manuel Jara, também presidente da Associação de Educação e Apoio na Esquizofrenia, são os estados mais depressivos que levam os doentes bipolares a uma maior predisposição para a criação artística.

Tradicionalmente designada por maníaco-depressiva, a doença bipolar é uma patologia psiquiátrica caracterizada por variações acentuadas do humor na mesma pessoa, com crises repetidas de depressão e de euforia, com repercussão nas sensações, emoções, ideias e no comportamento.

Na opinião do psiquiatra esta é “uma doença misteriosa”, que contem "uma parte criativa muito importante, que representa uma coincidência entre a genialidade e a loucura". No entanto, a ideia de que a criatividade se esgota com o tratamento da doença é, segundo Jara, um mito que é preciso explicar, pois considera que "o tratamento dos doentes bipolares deve ser acompanhado de forma a não eliminar a sua criatividade".

Ao longo da história, diversos são os casos de artistas que eram "génios marcados pela loucura”, como Lord Byron, poeta britânico associado ao Romantismo, e Schumann, "um talento musical e também literário", aponta o psiquiatra. No panorama nacional os exemplos são também inúmeros, como Antero de Quental, Florbela Espanca ou Mário de Sá Carneiro, três escritores cuja obra reflecte uma brusca oscilação de humor, culminando com o suicídio.

José Manuel Jara considera a obra "útil, com muitos dados científicos e também de grande valor literário". "No fundo, é um livro que representa um interface entre a medicina e as ciências humanas e que consegue um bom equilíbrio entre o aspecto científico e artístico".

Kay Redfield Jameson é também autora do livro "Uma Mente Inquieta", no qual aborda a sua própria experiência enquanto doente bipolar. Autora de vários livros, é professora de psiquiatria na Escola de Medicina da Universidade John Hopkins, Estados Unidos, sendo considerada uma das maiores especialistas norte-americanas em desordem bipolar.

Inês de Matos

Fonte: Lusa

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