sexta-feira, 29 de junho de 2007

Senado norte-americano atento à influência das farmacêuticas nos médicos

Numa audiência apresentada ao Comité Especial do Envelhecimento do Senado Norte-Americano, um grupo de especialistas sugeriu que as farmacêuticas deveriam ser obrigadas a revelar os pagamentos aos médicos. À medida que a competição aumenta, numa indústria que gasta anualmente cerca de 18,6 mil milhões de euros em campanhas de marketing, muitas das quais dirigidas aos médicos e à influência nos hábitos de prescrição, acrescem também as preocupações com a transparência.

Herb Kohl, presidente do comité de senadores, propôs a criação de um registo nacional no qual as empresas farmacêuticas revelassem os pagamentos e ofertas concedidas aos médicos. Os laboratórios têm sido os maiores patrocinadores da formação médica contínua nos últimos anos, o que, de acordo com os especialistas, eleva os custos com a saúde, influencia as prescrições dos médicos e corrompe o tratamento dos pacientes.

“A maioria do conhecimento médico acerca dos fármacos provém da indústria, e isso não é saudável”, salientou Jerry Avorn, professor da Escola de Medicina de Harvard e um crítico deste tipo de financiamentos. “As instituições académicas associam o seu nome a cursos que não passam de publicidade informativa”, acrescentou. Essa tendência foi ainda impulsionada depois de o governo, em 2002, se ter recusado a apoiar um plano para limitar os patrocínios comerciais no auge da indústria, referem os investigadores do senado.

Por sua vez, Scott Lassman, conselheiro geral da Fundação Americana de Pesquisa e Produtores Farmacêuticos (PhRMA, na sigla inglesa), alegou que os cursos de formação médica contínua “são encarados independentemente das empresas farmacêuticas”. Segundo o responsável, “a empresa pode financiá-los mas não influencia o seu conteúdo”. Para além disso, as dissertações acerca dos medicamentos genéricos são sempre um “benefício para os médicos, desde que sejam independentes e que a ciência por detrás dos fármacos seja sólida”, acrescentou.

Porém, para os médicos, os patrocínios das farmacêuticas “fazem com que seja difícil saber qual a investigação em que se deve acreditar”, considera J. Gregory Rosenthal, especialista em cirurgia da retina e fundador dos Médicos pela Responsabilidade Clínica, um grupo que defende fiscalizações mais apertadas ao nível dos conflitos de interesse na medicina. “Parece que todos lucram com este sistema permissivo de presentes e pagamentos, excepto o consumidor”, alertou Kohl.

Sobre a mesma questão, Robert Sade, presidente do painel de ética da Associação Médica Americana, defendeu que algumas das ofertas são aceitáveis, como é o caso das amostras grátis, apesar da sua equipa ainda não ter tomado uma posição.

Marta Bilro

Fonte: First World, The New York Times, The Union Tribune, Washington Post.

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