sábado, 14 de julho de 2007

Instituto alemão desenvolve bioadesivos à base de secreções do mexilhão

Investigadores de um departamento do Instituto Fraunhofer (IFAM), em Bremen, estão a desenvolver um produto à base das propriedades adesivas da secreção produzida pelos mexilhões, que se revelaram ideais para ajudar a cicatrizar feridas abertas e ossos partidos. Na fase actual da investigação, os cientistas estão a reproduzir em laboratório as características das proteínas com propriedades adesivas. O objectivo é produzir posteriormente um material adesivo que também tenha a capacidade de acelerar a cicatrização.

A pesquisa, que está agora numa segunda fase, tem sido desenvolvida para a criação de um composto idêntico, capaz de ser produzido artificialmente, pois a produção sintética tornará viáveis as diversas aplicações médicas, uma vez que, por métodos naturais, se tornaria excessivamente dispendioso generalizar a sua utilização na medicina, além de que seriam precisos dez mil moluscos para obter um grama desta substância aderente.

Os organismos marinhos, como os mexilhões ou as cracas, desenvolveram formas de aderir a diferentes superfícies num ambiente de água salgada. As glândulas do mexilhão produzem uma cola única, que permite a aderência a quase todos os tipos de superfícies, não só a rochas, como a vidro, madeira, metal e mesmo a revestimentos teflon. Tais componentes aderentes são tão robustos que são capazes de resistir às correntes marítimas mais fortes. As questões de maior interesse para a pesquisa são os organismos marinhos que, quando é necessário, são capazes de libertar adesivo de contacto em segundos.

Os componentes principais dos adesivos naturais foram identificados como pertencendo à categoria das proteínas. Estas macromoléculas, formadas por cadeias de aminoácidos, realizam diferentes funções, dependendo da sua composição. Além do mais, as proteínas não só formam a base da adesão direccionada de um organismo, mas também permitem a coesão das células vivas umas entre as outras. Com base nestes mecanismos de aderência, o IFAM está agora a trabalhar na estruturação e síntese de adesivos baseados nestas proteínas. Os possíveis campos de aplicação surgem não só na área da adesão debaixo de água, mas especialmente na medicina, como por exemplo, na cicatrização de feridas. Os investigadores do Instituto alemão Fraunhofer estão a analisar as características aderentes e estão a estudar a possibilidade deste tipo de material substituir os agrafos e os pontos cirúrgicos, de forma eficaz e vantajosa. A resistência da substância também será indicada para o caso de fractura de ossos, fixação de próteses dentárias e mesmo nas operações à retina.

Actualmente, os materiais adesivos utilizados em medicina para ligar e cicatrizar tecidos têm algumas limitações e inconvenientes, visto que podem libertar substâncias tóxicas como o formaldeído. Os investigadores alemães já averiguaram que a substância adesiva proveniente do mexilhão é bem tolerada pelo organismo humano.

De destacar que o Instituto Fraunhofer estabeleceu uma parceria com a Universidade do Porto, e será instalado junto à mesma. A decisão foi tomada após um período de análise das propostas recebidas para a localização do Instituto Fraunhofer Portugal e de visitas de representantes da Sociedade Fraunhofer (Fraunhofer-Gesellschaft) às instituições proponentes. O âmbito desta parceria diz respeito não à área dos materiais de colagem, mas às Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC). A Sociedade Fraunhofer envolve mais de 12 mil pessoas em 56 institutos e, para além da investigação, dedica-se ainda à formação.

Isabel Marques

Fontes: Jornal de Notícias, Ciência Hoje, www.ifam.fraunhofer.de

Sem comentários: