sábado, 14 de julho de 2007

Ácido fólico nas farinhas diminui risco de deficiências congénitas em 46%


A adição de ácido fólico à farinha provoca uma diminuição de 46 por cento da incidência de anomalias congénitas do tubo neural dos bebés, principalmente da ocorrência de anencefalias e espinha bífida, revela um estudo da Universidade Laval, no Canadá.

Os defeitos abertos do tubo neural (DTN), anomalias congénitas da espinha ou do cérebro do bebé, são frequentemente causados pela carência de ácido fólico, podendo resultar em malformações do cérebro ou da espinal medula e dos seus revestimentos. Este problema ocorre quando a coluna vertebral do feto não se encerra adequadamente nos primeiros 28 dias após a concepção.

O ácido fólico (ácido peteroilglutâmico), pertencente ao grupo das vitaminas do complexo B, encontra-se na composição dos vegetais verdes, da fruta, dos cereais completos ou da carne. Porém, mesmo uma dieta equilibrada não fornece a quantidade suficiente de ácido fólico necessário às grávidas e ao bebé, explica Philippe De Wals, um dos autores do estudo publicado no “New England Journal of Medicine”.

Conscientes da relevância desta vitamina, as autoridades canadianas decidiram “adicionar ácido fólico a todas as farinhas produzidas no país, uma vez que a formação do tubo neural dos embriões é particularmente intensa durante as primeiras quatro semanas de gravidez, altura em que muitas das mulheres ainda não sabem que estão grávidas”, afirmou De Wals. Metade das gravidezes no Canadá não são planeadas e o corpo humano não tem capacidade para armazenar ácido fólico suficiente, sendo, por isso, importante integrá-lo na cadeia alimentar em vez de tomar exclusivamente suplementos vitamínicos, destaca a investigação.

Os especialistas compararam a incidência das deformações no tubo neural em mais de 2 milhões de nascimentos no Canadá, antes e depois de serem introduzidas no mercado as farinhas enriquecidas com ácido fólico. Entre 1993 e 1997, a incidência de malformações situava-se nos 1,58 por cento por cada 1.000 nascimentos. Por sua vez, entre 2000 e 2002, a taxa sofreu uma diminuição de 46 por cento para os 0,86 pontos percentuais por cada 1.000 nascimentos. Actualmente, a adição de ácido fólico às farinhas é uma realidade disponível apenas para os cidadãos dos Estados Unidos da América, Canadá e Chile.

Espinha bífida, quais as consequências?

A espinha bífida é uma afecção pertencente a um conjunto de alterações conhecido como defeitos do tubo neural. Nos casos mais graves, a criança pode apresentar fraqueza muscular ou mesmo paralisia abaixo do nível do não encerramento completo da coluna, perda de sensibilidade e incapacidade de controlar os esfíncteres anal e/ou vesical. Para além disto, há ainda a possibilidade do líquido cefalo-raquidiano (LCR), líquido que envolve o cérebro e a medula, poder acumular-se no cérebro, originando uma condição conhecida como hidrocéfalo, que se não for tratada pode levar a lesões cerebrais, com cegueira e convulsões.

Porém, os sintomas não são apenas físicos, sendo que, por vezes surgem também problemas de aprendizagem, entre os quais se destacam as dificuldades de atenção, expressão e compreensão da linguagem falada, dificuldades de leitura, de compreensão dos conceitos matemáticos ou ao nível da organização da informação. Entre as condições mais frequentes apresentadas pelas pessoas com espinha bífida estão ainda as tendinites, os problemas cutâneos, gastrointestinais, a obesidade e a depressão.

De acordo com dados do Instituto Médico de Radiologia Clínica, nascem cerca de 1 a 2 bebés em cada 1000 com DTN. A maioria (95 por cento) surge em famílias sem história anterior de DTN. Todos os anos, são registados cerca de 200 mil casos de espinha bífida e anencefalia a nível mundial. Os resultados deste estudo sugerem que a adição de ácido fólico aos alimentos poderia reduzir esse número para metade.

Marta Bilro

Fonte: The Earth Times, United Press International, Science Daily, Bayer, Administração Regional de Saúde do Centro, Instituto Médico de Radiologia Clínica.

2 comentários:

ptcp disse...

Escreveu: "cefalorraquídeo (líquido que envolve o cérebro e a medula); este líquido é o "líquido cefalo-raquidiano (LCR)".

xtrelitah disse...

Agradeço a correcção. Escrevi assim porque a pesquisa que efectuei no portal da Administração Regional de Saúde do Centro se referia ao termo desta forma.