segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Só a profilaxia pode evitar uma doença sem tratamento
Vacinas contra a gastroenterite pediátrica


A Sociedade Europeia de Doenças Infecciosas Pediátricas e a Sociedade Europeia de Gastroenterologia congratularam-se publicamente com a notícia do desenvolvimento de duas novas vacinas contra a gastroenterite pediátrica por rotavírus, que anualmente é responsável pela morte de meio milhão de crianças com menos de cinco anos de idade, sendo diagnosticada sobretudo em bebés dos três aos 24 meses. Altamente contagioso e muito resistente, o rotavírus não dispõe ainda de qualquer tratamento eficaz, sendo a vacinação a única profilaxia possível.

Muito mais agressiva do que uma vulgar inflamação gástrica, a gastroenterite pediátrica por rotavírus representa actualmente a causa mais frequente de diarreias e desidratação grave secundária em idade infantil. Só na União Europeia estima-se uma prevalência de mais de três milhões de crianças infectadas antes dos cinco anos (num universo de 23,6 milhões de meninos naquela faixa etária) por ano, das quais 700 mil são submetidas a consultas médicas em virtude do problema, e mais de 87 mil acabam mesmo por ter de ser hospitalizadas. A doença não distingue os países industrializados dos que estão em vias de desenvolvimento, afectando de igual forma os menores que vivem naqueles dois meios, o que sugere que as condições ambientais – higiene, salubridade, saneamento e acesso a água potável – não influem significativamente no quadro clínico.
A gravidade da gastroenterite infantil varia entre os casos perfeitamente assintomáticos e os casos graves, acompanhados de enormes perdas de líquidos por desidratação, que podem ser fatais. Os sintomas são normalmente bastante intensos, incluindo diarreia aquosa, vómitos, febres altas e dor abdominal, num quadro muito similar ao de qualquer gastroenterite comum, não sendo raros os casos com mais de 20 episódios de vómitos e diarreias em apenas 24 horas, num quadro clínico que se prolonga por três a nove dias. Não existe um tratamento específico para esta patologia, que se propaga com grande facilidade, através do contacto directo com o agente infeccioso ou uma pessoa infectada (transmissão fecal/oral), por intermédio de secreções respiratórias ou do contacto com objectos contaminados, como água e comida ou, no caso das crianças, brinquedos. A vacinação é, segundo os especialistas, a única medida de controlo com um significativo impacto na incidência da gastroenterite pediátrica por rotavírus.
Terá sido exactamente essa a principal motivação do regozijo demonstrado pelos peritos da Sociedade Europeia de Doenças Infecciosas Pediátricas e da Sociedade Europeia de Gastroenterologia diante do anúncio do desenvolvimento de duas novas vacinas contra aquela enfermidade. Trata-se de duas imunizações por via oral compatíveis com as do restante calendário de vacinação, e que apenas são contra-indicadas em pacientes com alergia a algum dos seus componentes. De acordo com um estudo divulgado há dias no «The New England Journal of Medicine», e citado pela revista espanhola «XL Semanal» desta semana, as novas vacinas demonstraram uma eficácia de 85 por cento nos testes feitos a mais de 63 mil crianças, contribuindo também para uma redução de 96 por cento no número de internamentos.

Carla Teixeira
Fonte: «XL Semanal» de 5 a 11 de Agosto

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