terça-feira, 26 de junho de 2007

Reportagem

Aspartame, um benefício artificial?

Estudo relaciona o adoçante à incidência de cancro


Um estudo que analisou a utilização de aspartame, um edulcorante artificial de baixo valor energético, voltou a levantar suspeitas acerca desta substância ao revelar que os ratos, aos quais esta foi administrada de forma regular, demonstraram riscos acrescidos de desenvolver leucemia, linfomas e cancro da mama.

O aspartame é utilizado em vários alimentos, bebidas e medicamentos em mais de 100 países. A sua utilização foi, primeiramente, aprovada pela Administração Norte-Americana dos Alimentos e Fármacos (Food and Drugs Administration - FDA) em 1981 para misturas em pó e edulcorantes de mesa de baixo valor energético. Em 1996, foi aprovado o seu uso em todos os alimentos e bebidas.

A investigação, conduzida pela Fundação Europeia Ramazzini de Oncologia e Ciências do Ambiente, em Itália, revelou que quando a exposição ao edulcorante começa durante a vida fetal, os potenciais efeitos cancerígenos aumentam. Os ratos foram expostos ao aspartame em níveis superiores e inferiores à dose diária máxima recomendada. Este estudo coloca “sérias questões acerca da segurança do aspartame”, afirmou Mike Jacobson, director-executivo do Centro para as Ciências de Interesse Público, uma entidade responsável pela fiscalização da saúde pública sedeada em Washington.

“Com base nos dados científicos, acreditamos que o aspartame deve ser evitado tanto quanto possível, especialmente por grávidas e crianças”, salienttou Morando Soffritti, o principal responsável pela investigação publicada no “Environmental Health Perspectives”, uma publicação com apoio governamental. Por sua vez, Michael Herndon, um porta-voz da FDA, afirmou que “nesta altura, a FDA não vê motivos para alterar as suas conclusões anteriores que indicam que o aspartame é seguro enquanto adoçante para os alimentos”.

Nos Estados Unidos da América, a dose diária recomendada de aspartame situa-se nos 50 miligramas por cada quilo do peso do corpo, enquanto que na Europa se fica pelas 40 miligramas por cada quilo do peso corporal. É uma quantidade muito elevada, alertam os especialistas, já que, numa pessoa com 68 quilos, equivale a 18 latas de refrigerante dietético por dia. Numa criança com 22 quilos, aproxima-se das seis latas diárias. Para além disso, a presença do aspartame não se fica só pelos refrigerantes. Está também na composição dos iogurtes, sobremesas dietéticas, pastilhas e medicamentos. Nesse sentido, é provável que a ingestão diária de aspartame seja muitas vezes subestimada, alerta Soffrittini.

Ao nível do consumo mundial, o edulcorante artificial representa 62 por cento do valor do mercado de adoçantes, e deverá estar presente em seis mil produtos em todo o mundo, incluindo bebidas gaseificadas, doces, adoçantes de mesa e alguns produtos farmacêuticos, tais como vitaminas e xaropes para a tosse sem adição de açúcar.

Os procedimentos da investigação

Para concretizar este estudo a equipa de investigadores separou as fêmeas grávidas em três grupos. Um dos grupos foi alimentado com uma dose elevada de aspartame (100mg/kg de peso corporal), o segundo foi alimentado com uma dose inferior (20 mg/kg de peso corporal) e o terceiro não recebeu qualquer adoçante na alimentação.

O processo teve início no 12º dia de gravidez e as mães foram mortas depois de desmamarem. Por sua vez, as crias, que receberam a mesma alimentação que as mães, viveram até falecerem por causas naturais e foram posteriormente examinadas à procura de cancro e doenças. No total foram analisados 400 ratos. Os cientistas observaram a pele, a gordura, as glândulas mamárias, o cérebro, as glândulas pituitárias e as glândulas salivares.

No final, os investigadores descobriram um aumento, estatisticamente relevante, dos tumores malignos, nos ratos que foram alimentados com o edulcorante artificial. O grupo de fêmeas alimentadas com a dose mais elevada de aspartame revelou uma percentagem de aumento dos tumores de 15 por cento, enquanto que no grupo alimentado com a dose mais reduzida o aumento dos linfomas e leucemias não se revelou significativo em ambos os sexos, nem o cancro da mama nas fémeas.

Face às conclusões, Soffrittini sublinhou que é necessário “reconsiderar urgentemente” as regulações governamentais sobre o uso de aspartame enquanto edulcorante artificial. Um estudo de 2005 tinha já alertado para os perigos de ingestão desta substância e para e existência de uma co-relação entre o aumento da incidência de linfomas e leucemias nas fêmeas de ratos e as doses de aspartame ingeridas. Na altura, Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar considerou que não existia ainda fundamento para recomendar alterações nas dietas dos consumidores, no que se referia ao aspartame, mas prometeu analisar a informação.

Marta Bilro

Fonte: Food Navigator, Journal Sentinel, Associação Portuguesa de Dietistas.

1 comentário:

ptcp disse...

Excelente artigo Marta. Contudo um pouco extenso. Para potenciar a informação e rentabilizar a sua retenção deve ser mais conciso. Estas iniciativas (reportagens) mais extensas devem vir acompanhadas de um a versão resumida para se enquadrar melhor no espaço dedicado aos artigos de 1ª página.