sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Excesso de vitamina E pode agravar processo inflamatório

Cientistas registam efeito antagónico e alertam para riscos do consumo indiscriminado

Quanto maior for o consumo de vitamina E, pior poderá ser o efeito num quadro clínico de inflamação, ou seja, administrada em doses elevadas, afinal o seu papel não é “anti”, mas pró-inflamatório. A descoberta saiu de um estudo conduzido por investigadores do Instituto Oswaldo Cruz, no Brasil, noticiado na Agência FAPESP.

A vitamina E é reconhecida como potencial antioxidante e anti-inflamatório, no entanto, um estudo realizado no Laboratório de Imunofarmacologia do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) da Fundação Oswaldo Cruz, apontou um possível papel antagónico em processos inflamatórios, levando ao alerta: a administração de uma dosagem excessiva pode ter como consequência um agravamento do quadro clínico.

De acordo com a investigação brasileira, a vitamina E tem um efeito inibitório na actividade do receptor nuclear PPAR gama - proteínas existentes no núcleo das células e que são importantes na comunicação celular - somente quando administrada em baixa quantidade.

Segundo explicou a bióloga Adriana Ribeiro Silva - coordenadora da investigação que durou dois anos -, “constatámos que o efeito anti-inflamatório da vitamina E pode ocorrer por meio do receptor PPAR gama, porém, verificámos que, quando administrada em altas doses, a vitamina não tem efeito sobre a proteína e permite a inflamação”, concretizando que, “o carácter anti-inflamatório da vitamina seria devido ao efeito inibitório na activação do receptor."

Na investigação, os cientistas utilizaram ratos como modelo experimental, nos quais provocaram um processo inflamatório e avaliaram o efeito do tratamento com vitamina E depois da administração de fármacos usados em tratamentos clínicos.

“Constatou-se que uma dose de 40 microgramas por cavidade (por animal) tem efeito anti-inflamatório mas, se a dose for aumentada para 120 microgramas por cavidade, a vitamina E passa a ter actividade pró-inflamatória”, revelou Adriana Silva, destacando que o facto é “muito relevante porque esta dose mais elevada é a mais frequentemente prescrita para humanos.”

Estudo traz “luz” a novos fármacos

Outro aspecto a destacar é o contributo destes resultados face aos medicamentos que se ligam ao receptor PPAR gama e que são utilizados clinicamente e aceites comercialmente como anti-diabéticos. “O próprio estudo começou com a proposta de avaliar o uso desses fármacos no tratamento da diabetes”, informou a bióloga.

Para a investigadora, a investigação traz uma outra vantagem: "Hoje temos dificuldade em produzir fármacos que tenham efeitos desejados e não apresentem os efeitos colaterais. Cada vez mais se tem tentado encontrar alvos moleculares, como o PPAR gama, com actividades dentro da célula", salientou.

À Agência FASPEP, Adriana Ribeiro Silva adiantou ainda que, a equipa do IOC pretende destacar os efeitos antioxidantes da vitamina E e “propor a sua aplicação como um anti-inflamatório que possa ser utilizado de forma mais ampla”, inclusive, em doenças do foro infeccioso, nomeadamente, por bactérias e outros microrganismos. Está já planeada também uma nova etapa da investigação que será investigar as actividades pró e anti inflamatória da vitamina E com foco na sepsia.

Raquel Pacheco

Fontes: Agência FAPESP

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