sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Modificar microorganismos para obter moléculas farmacêuticas

Cientistas norte-americanos focam investigação em sistemas microbianos como futuras "fábricas" de compostos químicos

Os microorganismos podem ser usados como "pequenas e eficientes fábricas" de moléculas farmacêuticas para combater o cancro, o envelhecimento e a obesidade. A garantia é dada por cientistas da Universidade de Buffalo (Estados Unidos) que estão a investigar a modificação genética de microorganismos para estes fins.

Mostrar o potencial da modificação de organismos, focando as investigações na obtenção de isoflavonóides é a missão desta equipa norte-americana, estimando que, já no final deste ano, seja obtida uma escala de produção piloto de isoflavonóides.

“O objectivo é utilizar enzimas para que a bactéria Escherichia coli seja capaz de fabricar o composto químico de que precisamos”, explicou Matheos A. G. Koffas, professor na Universidade de Buffalo.

De acordo com o investigador, os sistemas microbianos “permitem que grandes quantidades de compostos químicos de importância farmacêutica sejam fabricadas por meio de processos mais eficientes, mais baratos e mais ambientalmente amigáveis.”

Matheos Koffas advogou que fabricar produtos químicos por esta via “reduz a dependência de derivados de petróleo, assim como, a necessidade de uso de temperaturas elevadas, de metais pesados, de condições de acidez extrema e de solventes perigosos”, acrescentando que, “poderiam ainda ser realizadas reacções químicas muito complexas nas bactérias, necessárias para a síntese de certos fármacos e que são muito difíceis de serem executadas por métodos químicos convencionais.”

Neste sentido, os investigadores norte-americanos revelaram que esperam produzir 400 miligramas de flavonóides por litro de cultivos de bactérias, um número que ultrapassa em larga escala os 20 miligramas obtidos por outros sistemas de produção.

Segundo anunciou a equipa, está a ser utilizada a mesma estratégia para a produção de outros compostos, “como certos pigmentos naturais que poderiam substituir os sintéticos que são usados como aditivos alimentares.”


Isoflavonóides interessam indústria farmacêutica

Os isoflavonóides são fitoestrogénios, os quais apresentam alguns efeitos estrogénicos nas células. Existem três classes: lignans, flavonóides e isoflavonóides. Os primeiros encontram-se nos cereais, grãos, frutos e vegetais . Os lignans, depois de metabolizados pela microflora intestinal, aumentam no plasma sanguíneo constituintes tais como as enterolactonas e o enterodiol. Os fitoestrogénios podem interferir no metabolismo e biodisponibilidade dos esteróides, e inibir algumas enzimas cruciais para a proliferação celular.

Assim, os flavonóides são considerdos compostos interessantes para a indústria farmacêutica pelas suas propriedades antioxidantes e anticancerígenas e muits são difíceis de serem produzidos pelos métodos actuais.

Os cientistas trabalham em colaboração com a companhia First Wave Technologies que recebeu um subsídio da National Science Foundation (Estados Unidos) para levar a cabo esta investigação que foi divulgada dias depois do anúncio do Nobel da Medicina.

Raquel Pacheco
Fonte: Reuters/BBC