terça-feira, 2 de outubro de 2007

“Vírus” e “bactérias” impedem comunicação farmacêutico-doente

Ameaças, exigências, ironias e generalizações devem ficar de fora

Da mesma forma que o organismo pode adoecer devido à invasão de microrganismos patogénicos, a comunicação entre o farmacêutico e o doente pode ser infectada por um conjunto de vírus e bactérias que impedem a chegada da mensagem ao receptor. Esta foi uma analogia utilizada por Joan Carles March, professor da Escola Andaluza de Saúde Pública, para salientar a importância de aprender técnicas que tornem eficaz a comunicação entre o farmacêutico e o doente.

De acordo com March, existem três tipos de vírus e cinco bactérias que atrapalham a comunicação farmacêutico-doente. As acusações, as ameaças, as exigências pertencem ao grupo dos vírus. Por sua vez, os juízos, os menosprezos, as ironias, colocar etiquetas e generalizar pertencem à categoria das bactérias. “Este tipo de atitudes são as que mais precisam de ser evitadas; por exemplo, não se deve culpar um paciente dizendo-lhe «eu disse-lhe» ou «eu adverti-o»; ou ameaçá-lo com expressões como «que seja a última vez que lho digo», ou impor exigências, dizendo-lhe «vai fazê-lo porque eu lho estou a dizer» ”, considera este especialista.

Por outro lado, há um conjunto de atitudes que devem ser adoptadas. “É preciso questionar o paciente e fazê-lo de forma aberta; reforçar as coisas que faz bem, uma vez que para mudar algo é mais eficaz sublinhar o que se faz bem; saber ouvir, que é o mais difícil, e demonstrar que se está a ouvir; é preciso especificar e reconfirmar, de forma que constatemos que o paciente entendeu o que lhe dissemos; criar empatia com a pessoa que estamos a atender, isto é, utilizando expressões como «percebo como isso o deve preocupar por isto ou por aquilo»; é importante acolher o paciente, e isso consegue-se no primeiro contacto, através do olhar e do sorriso; e, finalmente, saber resumir”, destaca o especialista, citado pelo Correo Farmacéutico.

Para o professor há ainda outros parâmetros de extrema relevância e que se prendem com os pequenos detalhes, os gestos, o que não se disse, o silêncio. “O olhar, entregar o medicamento na mão do paciente e não deixá-lo no balcão, fornecer informação ordenada, resumida e de uma forma fácil de entender e gerar um clima de intimidade são aspectos que o farmacêutico deve aprimorar”, refere.

Laura Teneu, do Serviçpo de Farmácias do Hospital de Santa Cruz e San Pablo, de Barcelona, destaca a confiança, o compromisso, a empatia e a reciprocidade como alguns dos principais ingredientes da relação entre o doente e o farmacêutico. É necessário demonstrar “continuidade, acessibilidade, flexibilidade, dedicação, tempo, naturalidade, cordialidade e elevada competência emocional e profissional”, salienta. Até porque, tudo isto permite “rastrear, calibrar e sentir as necessidades do doente, os seus medos, expectativas e preocupações”, justifica.

No que toca aos riscos inerentes a um tratamento, Laura Teneu defende que é preciso destacar os benefícios e nunca misturar conceitos, não utilizar palavras trágicas e falar sempre com positivismo.

Marta Bilro

Fonte: Correo Farmacéutico.

1 comentário:

Rui Borges disse...

Excelente escolha do tema. Muito bem abordado. Parabéns!!