sexta-feira, 15 de junho de 2007

Motivo psíquico pode justificar aborto

Fez ontem seis meses que a Associação para o Planeamento da Família (APF) criou a Linha Opções para ajudar as mulheres que tivessem dúvidas quanto a dar continuidade à gravidez. Também os próprios médicos ligam para pedir indicações sobre as atitudes a tomar.

Uma avaliação dos números de chamadas que têm sido feitas para a Linha Opções permite concluir que os médicos estão mais receptivos a concordar com um aborto se os motivos apresentados forem de ordem psíquica.
Segundo a coordenadora da Linha, Elisabete Souto, 4% das chamadas foram feitas por técnicos de saúde de cuidados primários que, na sua maioria, "tinham a utente à frente, a pedir a IVG" e "queriam ajudá-la, saber onde encontrar respostas, pedir esclarecimentos sobre o quadro legal, sobre como passar o atestado de risco de saúde psíquica".

A aceitação tem vindo a sofrer alterações desde o referendo de Fevereiro que legalizou a interrupção voluntária da gravidez (IVG) até às dez semanas e perante as mulheres que se apresentam nos serviços de saúde a pedir a mesma. "São todas mulheres muito angustiadas. Em muitas circunstâncias é possível dizer-lhes que há uma alínea da lei para isso", afirma Elisabete Souto, quando se trata de uma gravidez que já ultrapassa as dez semanas consideradas legais. "A nova lei só acrescentou a alínea da opção da mulher até às dez semanas. As restantes mantêm-se com os mesmos prazos", continua a coordenadora, realçando que às 12 semanas o risco de saúde pode ser psíquico.

No entanto Elisabete Souto diz que não se trata de banalizar a IVG, facto que se temia com a legalização, pois considera que tomar uma decisão destas e chegar a fazê-lo não é nada fácil. De qualquer modo, os casos de aborto em gravidezes adiantadas são raros, tendo em conta os números da Linha Opções. Em seis meses foram recebidas 383 chamadas das quais 68% para pedir a interrupção, justificada por razões sócio-económicas. A maioria das chamadas dizia respeito a gravidezes com menos de dez semanas e 6,4% tratava-se de gravidezes superiores a 12 semanas.

Sara Nascimento

Fonte: Jornal de Notícias

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