sexta-feira, 15 de junho de 2007

Células estaminais humanas reduzem efeitos de Parkinson em primatas

Há uma nova esperança para os doentes de Parkinson, uma perturbação degenerativa e lentamente progressiva do sistema nervoso cujos principais sintomas são o tremor em repouso, a lentidão na iniciação de movimentos e a rigidez muscular. Um grupo de primatas portadores da doença em estado avançado conseguiram andar, movimentar-se, alimentar-se melhor e diminuir a incidência dos tremores depois de serem injectados com células estaminais neurológicas humanas.

O estudo realizado por uma equipa de cientistas de Yale, de Harvard, da Universidade do Colorado e do Instituto Burnham foi divulgado na revista “Proceedings of the National Academy of Sciences”.

A doença de Parkinson afecta cerca de 1 por cento da população com mais de 65 anos e 0,4 por cento da população com mais de 40 anos. Esta patologia resulta da incapacidade do cérebro para produzir dopamina, o principal neurotransmissor dos gânglios basais que são responsáveis por processar os sinais e transmitir a informação ao tálamo, que selecciona os impulsos processados e os envia para o córtex cerebral. A causa da degenerescência das células nervosas e da perda de dopamina, habitualmente, não é conhecida.

Apesar de os resultados serem promissores, ainda deverá demorar alguns anos para avaliar se um procedimento semelhante poderá ter valor terapêutico nos seres humanos, explicou o coordenador do estudo, Eugene Redmond, professor de psiquiatria e neurocirurgia em Yale, no Connecticut.

O grupo de cientistas tem vindo a explorar a utilização de células estaminais humanas no cérebro de pessoas e animais com a doença de Parkinson. “Primeiro tratamos os macacos com um químico que induz a doença de Parkinson destruindo as células de dopamina”, explicou Eugene Redmond. Posteriormente, acrescentou o responsável, “foram-lhes implantadas no cérebro células estaminais que observámos para perceber que tipo de efeitos teriam no comportamento e que tipo de alterações produziriam no cérebro”.

Para surpresa dos especialistas, em vez de apenas substituírem as células danificadas como estava previsto, as células estaminais actuaram na protecção das células danificadas prevendo futuras deteriorações. “Não só foi verificado o potencial das células estaminais na substituição de outras, como também se registaram uma variedade de efeitos que conduziram à regularização de algumas anomalias”, esclareceu Redmond.

As células neurológicas humanas implantadas nos primatas sobreviveram, migraram e tiveram um impacto funcional. Apesar de considerar que este é um passo importante, o cientista ressalvou que “há uma quantidade de estudos que precisam ser feitos antes de determinar se isto poderá ter impacto em ambiente clínico”.

Durante a elaboração do estudo, cinco em oito macacos com doença de Parkinson em estado avançado foram injectados com células estaminais neurológicas humanas enquanto os outros três receberam injecções de um placebo.

Os animais foram observados durante quatro meses antes da aplicação das injecções e durante os quatro meses que se seguiram ao procedimento. Os primatas injectados com as células estaminais apresentaram melhorias progressivas em todo o período pós-tratamento e agiram de forma significativamente distinta dos macacos a quem foi injectado o placebo.

Um conjunto composto por 21 macacos foi também analisado durante oito meses para avaliar outros possíveis efeitos biológicos das células estaminais. Não se registou o aparecimento de tumores ou outros efeitos secundários.

A Doença de Parkinson é uma afecção não reversível, que se prolonga por toda a vida. No entanto, a qualidade de vida dos doentes pode ser, substancialmente, melhorada com a utilização da medicação, sendo que, por exemplo, com a levodopa há uma redução dos sintomas em cerca de 75% dos pacientes, refere o portal da Administração Regional de Saúde do Centro.

Os dados da Associação Portuguesa de Doentes de Parkinson, indicam que em Portugal existem dois estudos epidemiológicos de prevalência que apontam para a existência aproximada de 12 mil doentes. A doença pode manifestar-se pela quinta ou sexta década da vida, e só excepcionalmente mais cedo. A sua incidência aumenta com a idade constituindo esta, só por si, um factor de risco. É previsível, portanto, que o número de doentes venha a aumentar à medida que aumenta a esperança de vida. Afecta ambos os sexos com ligeira preponderância para o sexo masculino.

Marta Bilro

Fonte: The Times of India, Voa News, News-medical.net, Associação Portuguesa de Doentes de Parkinson, Administração Regional de Saúde do Centro, Manual Merck.

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