terça-feira, 10 de julho de 2007

Cientistas conseguem prever acções do VIH

Estudo pode ser chave para criar vacina eficaz

Prever como o vírus se comporta no organismo de forma a colocar o sistema imunitário em alerta pode ser a chave para criar uma vacina eficaz no combate à sida. Cientistas conseguiram agora identificar como o VIH se move para enganar o sistema imunitário.

De acordo com um estudo divulgado na publicação científica «PLoS Pathogens», uma equipa de cientistas liderada por Zabrina Brumme investigadora do Partners AIDS Research Center, do Massachusetts General Hospital, da Harvard Medical School, nos EUA, conseguiu analisar, pela primeira vez, como o Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH) - que está na origem da sida - se move para enganar o sistema imunitário.

Segundo os investigadores norte-americanos, na base desta descoberta que consegue identificar as mutações do vírus, tornando-o infalível, está um novo algoritmo “inteligente” criado através de um megacomputador.

No artigo publicado no «PLoS Pathogens», os cientistas esclarecem que “o actual estudo utilizou métodos estatísticos de ponta para identificar locais específicos e padrões de antigénios de leucócitos humanos (HLA) de classe I – mutações de fuga restritas em vários genes do VIH.”

Os resultados foram resumidos “na forma de ‘mapas de fuga imune’, que destacam a contribuição diferencial do processo de aprendizagem imune para a diversidade genética do VIH” explicam os investigadores, acrescentando que foram “identificados locais específicos no genoma viral que estão sobre a pressão da selecção imune.”

No artigo, os cientistas sublinham que “os resultados do actual estudo contribuem para a nossa compreensão sobre como a pressão selectiva imune humana contribui para a variação nos vários genes do VIH e poderão ajudar a desenvolver vacinas para o VIH que tenham em consideração a diversidade viral.”

Prever como se move o VIH tem sido o principal entrave para que a comunidade científica desenvolva uma vacina eficaz capaz no combate à sida.


Monitorizar vírus à superfície

O que torna o VIH tão poderoso é a capacidade de sofrer mutações rapidamente, mesmo antes que o sistema imunitário consiga identificar a sua presença. Isto porque o sistema imunitário humano não consegue monitorizar a actividade do vírus dentro das células, sendo que, só o faz quando essa actividade acontece à superfície das mesmas.

Esta foi a meta dos cientistas norte-americanos: basearam-se no facto já conhecido, de que as proteínas denominadas de antigénios dos leucócitos humanos (HLA), podem acompanhar os movimentos ‘sorrateiros’ do VIH dentro das células e trazer pedaços do vírus para a superfície das mesmas, permitindo que o sistema imunitário se active.

No entanto, apesar deste representar um possível sistema de monitorização dos movimentos do VIH dentro das células, os cientistas deparam-se com um problema - na espécie humana existem cerca de 500 variantes da HLA.

A diversidade das variantes de HLA não ajuda no caso do desenvolvimento de uma vacina que seja eficaz em todos os indivíduos, já que, certas variantes podem ter a capacidade de detectar o VIH enquanto outras não.

Para dar solução a esta questão, os cientistas norte-americanos desenvolveram, assim, um algoritmo inteligente, o qual foi instalado num supercomputador que se baseou em 250 computadores ligados em rede.

De acordo com o «PLoS Pathogens», os cientistas analisaram a amostra sanguínea de 700 indivíduos infectados pelo VIH, há pelo menos cinco anos, mas que nunca tinham sido submetidos a medicamentos antiretrovirais.

Porque o vírus nunca tinha entrado em contacto com os medicamentos antiretrovirais, os cientistas sabem que todas as mutações identificadas no VIH através das HLA, presentes no sangue dos indivíduos, ocorreram porque o vírus estaria a tentar invadir o sistema imunitário e não para criar resistência à medicação.

Raquel Pacheco

Fonte: PLoS Pathogens /TVC