Heroína poderá ser um medicamento
Diante do reiterado fracasso de todas as tentativas para pôr termo a um estado de adição face aos opiáceos, e quando as terapias convencionais não conseguem dar resposta ao problema, ainda há esperança na recuperação de toxicodependentes? Na província espanhola de Andaluzia, os mentores de um projecto experimental de desabituação acreditam que sim…
Segundo o director do Centro PEPSA, o ensaio clínico – a única maneira de validar o projecto e obter a autorização do uso de qualquer substância como medicamento – comparou a evolução de dois grupos de pacientes: ao primeiro grupo foi injectada heroína (os seus elementos eram dependentes daquela droga e usavam-na por via intravenosa) e metadona por via oral, enquanto aos do segundo só foi administrada metadona, também por via oral. Pepe Caracuel garante que o que está em causa no programa não é, de todo, a legalização das drogas, mas apenas uma solicitação para que a Agência Espanhola de Medicamentos autorize a utilização terapêutica da heroína no tratamento da toxicodependência.
De acordo com aquele responsável, desde a entrada no programa dos primeiros doentes, “a avaliação é muito positiva”. Os doentes que integraram o grupo a que foi administrada apenas metadona também melhoraram, “até porque a assistência dada aos pacientes do Centro PEPSA não é a mesma que fornecem os serviços normalizados, onde o médico só vê o doente de tempos a tempos, nas consultas”. Aqui os doentes são acompanhados em permanência e têm sempre ao dispor uma equipa multidisciplinar composta por um médico, um psiquiatra, um psicólogo e várias enfermeiras. Pepe Caracuel explica que o objectivo do PEPSA é sempre o abandono das drogas ilícitas por parte dos seus utilizadores, mas reconhece que, “como em qualquer tratamento medicinal, também este pode falhar”. No entanto, considera que, mesmo nos casos em que o objectivo principal não seja alcançado, “reduzir os riscos e conferir alguma dignidade à vida das pessoas poderá constituir, por si só, uma vitória.
Carla Teixeira
Fonte: PEPSA, revista Dependências
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