domingo, 10 de junho de 2007

Farmacêuticas condicionam ensaios de medicamentos

Os resultados dos ensaios sobre medicamentos dependem, em grande parte, da farmacêutica que os subsidia, revela uma análise elaborada por um grupo de investigadores da Universidade da Califórnia, em São Francisco (UCSF). Os dados desta investigação foram divulgados nas edições mais recentes da PLoS Medicine.

Os cientistas examinaram 192 resultados de ensaios de fármacos publicados e elaborados entre 1999 e 2005 que comparavam um medicamento inibidor da enzima HMG CoA reductase capaz de reduzir o colesterol com outro semelhante, ou com um placebo. Ao examinarem os resultados constataram que se estes favorecessem o medicamento em teste, o ensaio tinha uma probabilidade vinte vezes superior de ser subsidiado pelo produtor da enzima HMG CoA reductase do que pela empresa produtora do fármaco semelhante. Os dados apresentados pelos investigadores mostram ainda que caso as conclusões do ensaio confirmassem a fiabilidade do medicamento em teste, as probabilidades do ensaio ser patrocinado pelo produtor do fármaco aumentam para 35 relativamente ao laboratório produtor da substância semelhante. É possível afirmar, por isso, que as empresas implicadas nos estudos sentem-se mais disponíveis para financiar os ensaios apenas quando estes as favorecem.

“Há muitas pessoas preocupadas com o crescente número de ensaios farmacológicos realizados pelos produtores de medicamentos”, salientou o autor do estudo Lisa Bero, professor de farmácia clínica e estudos de política da saúde na UCSF. Os resultados desses ensaios têm influência nos medicamentos que serão abrangidos pelos planos de saúde e nos tratamentos prescritos pelos médicos, nesse sentido, “se os resultados dos ensaios aos fármacos são condicionados pelos seus patrocinadores, não sabemos realmente qual é o mais eficaz”, advertiu.

Há, no entanto, um conjunto de factores que, de acordo com estes cientistas, poderão explicar porque é que os resultados favoreceram os financiadores dos medicamentos, entre os quais o facto dos patrocinadores dos ensaios optarem por não divulgar resultados que sejam desfavoráveis aos seus produtos. Pode também acontecer que as farmacêuticas seleccionem especificamente a atribuição de fundos aos ensaios com mais probabilidades de produzir resultados significativos.

Para além disso, acrescentou Lisa Bero, “a falta de medidas sobre os reais resultados clínicos neste mundo competitivo das comparações de medicamentos é decepcionante, uma vez que os estudos não nos fornecem a melhor informação necessária para escolhermos um inibidor da enzima HMG CoA reductase em detrimento de outros”.

O vice-presidente da “Pharmaceutical Research and Manufacturers of America”, entidade que congrega as indústrias farmacêuticas de pesquisa dos Estados Unidos, Ken Johnson, afirmou que “o novo estudo negligencia o papel crucial da ‘Food and Drug Administration’ (FDA) na revisão e aprovação de descobertas baseadas nos resultados de ensaios clínicos. A nossa indústria está dependente de ensaios clínicos bem estruturados que serão aprovados pela FDA”.

Marta Bilro

Fonte: Pharma Times

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