terça-feira, 24 de julho de 2007

Antidepressivos: prescrição para crianças quadruplicou

Médicos britânicos receitaram mais de 630 mil medicamentos em 2006

De acordo com dados oficiais, em 2006, os médicos britânicos prescreveram mais de 630 mil antidepressivos para jovens diagnosticados com doenças mentais ou depressão. O número deste tipo de medicamentos receitados para crianças (menores de 16 anos) quadruplicou, nos últimos dez anos, na Grã-Bretanha.

Os dados foram obtidos por David Laws, um deputado do Partido Liberal Democrata que lida com temas ligados à infância. Segundo apurou o responsável, a quantia excede em muito a média de antidepressivos recomendados pelos médicos do país para jovens em meados dos anos 90, sendo que, naquela época, a quantidade era de, aproximadamente, 146 mil por ano.

De acordo com uma reportagem publicada, ontem, no jornal «Daily Telegraph», uma menina de quatro anos tornou-se na mais jovem do país a ser medicada com antidepressivos. Segundo informa o «DT», a menina passou a sentir-se mal e a chorar quando foi enviada para o novo colégio. Neste sentido, a publicação britânica conta que os pais levaram a criança a um médico (com mais de 20 anos de prática) que receitou o uso de antidepressivos.

Ainda segundo aquele diário, o médico defendeu a sua acção, afirmando concordar que tal prática é ''pouco comum, mas não sem precedentes.'' ''Nós primeiro tentamos uma série de uma série de terapias psicológicas, mas não descartamos o uso de antidepressivos nem por uma criança de quatro anos'', terá sustentado o especialista.

Para o deputado David Laws, o facto de este tipo de medicamento ser indicado para crianças em idade escolar é um tema “de grande preocupação”, revelando que, segundo os dados que recolheu, no ano passado, no Reino Unido, “em cerca de 31 milhões de receitas constava a prescrição de antidepressivos para pessoas de todas as idades.” Esta taxa representa um aumento de seis por cento em relação ao ano anterior.

Entretanto, Mayur Lakhani, presidente do principal órgão britânico de clínicos gerais, - o Royal College of General Practicioners - defendeu que ''os médicos receitam antidepressivos apenas após uma cuidadosa avaliação da condição do paciente.''

Portugal segue aviso europeu

Recorde-se que, a relação entre os antidepressivos e o suicídio nas crianças e jovens levou a Autoridade Europeia do Medicamento a recomendar, em 2005, a não utilização, ou seja, a não prescrição destes fármacos nesta faixa etária, aviso que está a ser seguido em Portugal.

Na altura, o alerta não surpreendeu alguns pedopsiquiatras, que garantiram a "segurança" dos fármacos, "desde que seja dado o devido acompanhamento." Os especialistas consideraram que, em Portugal, "há um abuso" na prescrição de psicofármacos nestes jovens, baseado numa "confiança excessiva e injustificada."

No entanto, um novo estudo sobre os efeitos dos antidepressivos em jovens com comportamentos suicidas - divulgado este mês pelo Farmacia.com.pt - sugere que aqueles que recorrem ao tratamento correm menos riscos de tentar suicidar-se do que aqueles que não tomam quaisquer antidepressivos.

Consumo aumentou 65%

Recentemente, um outro relatório - divulgado pelo Alto-Comissariado da Saúde e que teve em conta o período compreendido entre 2001 e 2005 - revelou que os portugueses consomem cada vez mais antidepressivos. Só nos últimos cinco anos, o consumo destes medicamentos aumentou 65 por cento.

"A caixa milagrosa que tira a tristeza", é assim que um técnico farmacêutico descreve os antidepressivos, corroborando da tendência crescente. "Como dizem os americanos, é a vitamina da alegria", disse ao JN, acrescentando que muitos destes medicamentos causam dependência logo à terceira semana. "As pessoas sentem-se melhor, mais alegres e desinibidas, mas há muita gente dependente", considerou o técnico, advertindo para o maior problema deste consumo, "mais expressivo nas componentes fluoxetina - e, no caso dos ansiolíticos, alprazolam, do Xanax, e lorazepan, do Lexotan e Lorenin - a dependência."

Raquel Pacheco

Fonte: BBCNews/«Daily Telegraph»/Psicologia.com.pt/JN/Ministério da Saúde

1 comentário:

ptcp disse...

Muito bom artigo, a abordagem à realidade em portugal é excelente.
Apenas algumas correcções:
Um técnico farmacêutico é uma classe profissional de técnicos que adquire a sua carteira profissional por registo de práctica ou bacharelato, em nenhum dos casos está a sua opinião certificada acerca dos medicamentos. Estará, eventualmente, no âmbito da dispensa dos medicamentos.
Alprazolam é o princípio activo, ou DCI (denominação comum internacional), do medicamento de marca Xanax. O mesmo se passa com o lorazepam e o Lorenin. O Lexotan é uma marca em que a DCI, o princípio activo, é bromazepam.