terça-feira, 24 de julho de 2007

Descargas de medicamentos no passado ameaçam rios no presente

O desperdício de fármacos é um fenómeno crescente e uma realidade cada vez mais comum nos países desenvolvidos. Não passou muito tempo desde que se recomendava que os medicamentos inutilizados fossem depositados na sanita, hoje em dia esse é um conselho errado e que está a levantar preocupações face à detecção de vestígios de substâncias em vários rios um pouco por todo o mundo.

Algumas investigações recentes demonstraram que as substâncias hormonais desperdiçadas pelos seres humanos e descartadas através de uma descarga de autoclismo podem estar a alterar as espécies selvagens e as reservas de água, prejudicando os peixes e diminuindo as probabilidades de sobrevivência dos ovos.

Um estudo realizado entre 2004 e 2005 pelo departamento norte-americano de inspecção geológica, nos rios Columbia e Willamette, em Oregon, detectou a presença na água de acetaminofenos, anti-histamínicos e antibióticos. No entanto, o relatório salienta que não há padrões de descarga estabelecidos para indicar o prejuízo causado à vida humana ou aquática relativamente às substâncias detectadas, logo esses mesmos padrões não estariam a ser infringidos. O rio Rogue, em Oregon, nos Estados Unidos da América, está também entre os mais afectados.

Em 1999, estudos europeus revelaram que a presença de vestígios de contraceptivos orais nos rios estava a causar anomalias reprodutivas nos peixes. “O tratamento de águas convencional não tem capacidade para, nesta altura, filtrar estas substâncias”, afirmou Jim Hill, administrador da estação de tratamento de águas do rio Rogue e membro de um grupo especial que luta pela criação de alternativas para solucionar o desperdício de medicamentos. Reunidos em Salem, capital do estado do Oregon, desde Outubro de 2006, os participantes estão agora a finalizar um esboço que projecta um depósito seguro para os fármacos inutilizados. Este plano é substancialmente financiado pela indústria farmacêutica que, no entanto, não faz parte do grupo que o elabora.

Dados apresentados pela Associação das Agências de Limpeza de Águas, em Portland, indicam que 77 por cento das consultas dadas em hospitais pediátricos no Oregon, em 2004, tiveram origem em intoxicações acidentais com medicamentos prescritos. Nos EUA, a intoxicação é a segunda causa de morte das pessoas entre os 35 e os 54 anos de idade e a terceira em pessoas entre os 25 e os 34 anos de idade. As farmacêuticas não são as culpadas do problema, porém podem ser uma parte da solução, considera Jim Thompson, da Associação de Farmácias Estatais do Oregon e um dos membros do projecto. Na opinião deste responsável, a melhor alternativa seria que os doentes tomassem os seus medicamentos até ao final, tal como lhes são prescritos.

Uma das ideias que está a ser ponderada por este grupo de trabalho sugere que os abrigos e instalações de cuidados a longo prazo pudessem devolver os medicamentos inutilizados para que fossem depositados num recipiente nas farmácias ou que os enviassem aos responsáveis legais ou outras entidades competentes. Os fármacos seriam posteriormente incinerados através do mesmo método de eliminação de substâncias ilegais.

Marta Bilro

Fonte: MailTribune.com

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