terça-feira, 24 de julho de 2007

Sida: Circuncisão pode evitar contágio de milhões

VIH: Novos tratamentos em foco na Austrália

A prática da circuncisão masculina como método para reduzir o risco de transmissão da sida pode evitar o contágio de milhões de pessoas. A conclusão foi apresentada, ontem, durante a Conferência sobre Patogénese e Tratamento e Prevenção do VIH que está a decorrer, em Sidney (Austrália) e que, também, avançou novas estratégias de tratamento da doença.

Segundo garantiu o professor de Epidemiologia da Universidade de Illinois (Estados Unidos), Robert Bailey, a circuncisão reduz a transmissão do VIH em 60%. O especialista esclareceu que suas conclusões se baseiam em 45 estudos com testes clínicos e várias pesquisas biológicas.

O especialista americano – que realizou trabalhos sobre circuncisão em Uganda, Quênia, Malawi, Zâmbia e Estados Unidos - informou que a circuncisão foi considerada, pela primeira vez, no âmbito científico como uma técnica preventiva para a sida, há já 24 anos, e que a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu a medida somente, em Março.

Apesar de se tratar de uma prática originária do Egipto (que data do ano 2.300 a.C.), e praticada em 67% dos homens na África, em muitos países deste continente, com a maior incidência da sida, há uma forte oposição por motivos culturais e religiosos.

“É preciso passar da pesquisa às políticas, é necessário que a circuncisão possa ser praticada de forma segura e que eticamente não seja discriminatória”, defendeu Bailey.

Segundo adiantou o professor, apesar dos receios das mulheres face às possíveis reacções dos homens à prática, “foram realizados diversos estudos que indicam que elas são as primeiras a relacionar a circuncisão com higiene.” Bailey afirmou que serão elas que, como mães, deverão decidir a circuncisão dos filhos, de preferência imediatamente após o nascimento.

Novos tratamentos: tradicionais e inovadores

Sidney também foi palco da apresentação de novas estratégias de tratamento da sida que combinam medicamentos tradicionais, como os inibidores, e tratamentos genéticos inovadores.

John Rossi, professor de biologia molecular americano, abordou o sistema de alteração genética para conter a multiplicação do vírus. O estudo no qual trabalha começou com a identificação de três inibidores de genes baseados em ácidos ribonucléicos (chamados RNA, que são macromoléculas encarregadas de mediar a transferência de informação) que inibem a propagação do VIH.

A equipa de investigadores de Rossi espera que esta tripla combinação iniba a infecção pelo VIH, sendo que, o método já começou a ser testado em doentes.

"Os novos inibidores CCR-5, NRTIs, TMC 125 e TMC 278 podem melhorar a vida dos doentes com sida", sublinhou também o diretor das unidades de Doenças Infecciosas e Sida do Hospital de Barcelona.

José Gatell explicou que estes inibidores “não causam a chamada 'lipoatrofia' - perda de gordura subcutânea que dá um aspecto doentio às pessoas em tratamento -, e outras alterações do metabolismo das gorduras que provocam problemas secundários, como os acidentes vasculares.

“É um momento muito emocionante em matéria de desenvolvimento de novos medicamentos, temos novas fórmulas de fármacos que já existiam, mas também temos novos tipos. Os doentes e médicos agora têm um rol de possibilidades muito mais amplo”, concretizou o co-presidente da conferência considerada a mais importante do mundo na área, e que termina amanhã, na Austrália.

Raltegravir mais eficaz do que Efavirenz

Durante a IV Conferência Internacional de Patogénese, Tratamento e Prevenção do VIH foi ainda apresentado um estudo norte-americano que indica que o Raltegravir (novo anti-retroviral produzido pela Merck Sharpe & Dohme) – quando combinado com outros - apresenta menos efeitos colaterais do que o Efavirenz.

De acordo com Martin Markowitz, investigador da pesquisa e diretor-clínico da Aaron Diamond Aids Research (Estados Unidos), a utilização deste fármaco - que está no fim da fase II – em terapia combinada produz um efeito parecido com o Efavirenz, porém com o mínimo de efeitos adversos.

“Num estudo efectuado a longo-prazo (48 semanas) a combinação do raltegravir com o tenofovir e a lamivudina demonstrou ser eficaz no aumento de células CD4 (de 144 para 221), sem efeito adverso no colesterol baixo (LDL) e triglicerídeos”, explicou Martin Markowitz em Sidney.

Estas conclusões divulgadas, na Autrália, contrariam as apresentadas no ano passado, na Conferência Internacional de Aids, em Toronto, Canadá, quando a pesquisa tinha 24 semanas.

Raquel Pacheco

Fonte: Agência EFE/Rodrigo Vasconcellos (em Sidney)

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