terça-feira, 24 de julho de 2007

Cannabis afinal pode espoletar esquizofrenia


IDT admite uso para fins medicinais; Infarmed não recebeu pedidos de regulamentação de fármacos com a substância

Fumar cannabis - a droga ilícita mais consumida em todo o mundo - pode desencadear esquizofrenia e outros tipos de psicoses. O alerta partiu de investigadores que conduziram um estudo realizado na Clínica Universitária Psiquiátrica de Zurique, na Suíça, e contraria um estudo da Universidade de Colónia, na Alemanha, que apontava a planta como cura da mesma doença.

A pesquisa publicada, esta semana, na revista especializada «Schizophrenia Research» é uma recompilação de dados clínicos levantados ao longo das últimas três décadas no país.

Os cientistas recomendam uma reavaliação dos factores de risco propiciados pelo consumo de THC (tetrahidrocanabinol), princípio activo desta erva, e sua influência no desenvolvimento de outros males psíquicos.

De acordo com as estatísticas, os casos de psicoses esquizofrénicas (entre os jovens de 15 a 19 anos) aumentaram de 20 para 50, por cada 100 mil habitantes, entre 1990 e 1998.


Legalização para fins medicinais?

De acordo com o livro «Marijuana - A medicina proibida», da autoria de Lester Grinspoon e James B. Bakalar (da Harvard Medical School), a cannabis tem um uso médico corrente no alívio dos sintomas de tratamentos de quimioterapia, glaucoma, epilepsia, paraplegia e quadriplegia, sida, dor crónica, enxaqueca, doenças reumáticas, sintomas pré-menstruais e dores de parto, depressões e outras doenças mentais.

O Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT) afirmou, recentemente, não ter "objecções de princípio" à legalização da marijuana para fins medicinais. O presidente do IDT, João Goulão, admitiu, assim, o uso da cannabis em tratamentos médicos, desde que os fins sejam "devidamente comprovados", afirmando, porém, não conhecer as "investigações médicas em curso" para validar as vantagens terapêuticas da planta.

João Goulão não deixou de alertar para os efeitos nocivos relacionados com o consumo não controlado: "O sintoma mais comum é a desmotivação, mas também há registo das chamadas psicoses canábicas, doenças mentais que, embora tendo uma associação estatística com o consumo, não possuem uma relação de causa-efeito confirmada."

Já a Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed) advogou, por seu turno, que é preciso provar a eficácia da substância e a sua relação benefício/risco, dando o exemplo de alguns fármacos comercializados em Portugal que contêm derivados do ópio.

Confirmando que estão em curso estudos sobre o uso da planta da cannabis e da sua substância psico-activa para fins terapêuticos, o Infarmed negou, no entanto, ter recebido qualquer pedido de regulamentação de medicamentos com base na marijuana.


Raquel Pacheco
Fonte: «Schizophrenia Research»/Saúde em Movimento/Agência Lusa/IDT/Infarmed/Livro «Marijuana - A medicina proibida»

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