terça-feira, 3 de julho de 2007

Cientistas testam medicamento que pode suprimir memórias traumáticas

Uma equipa de cientistas da Universidade de Harvard e McGill, em Montreal, no Canadá, acredita ter descoberto uma forma de reduzir o impacto das memórias negativas no cérebro das pessoas. Os investigadores estão a trabalhar num medicamento que bloqueia ou apaga essas recordações dolorosas através de uma técnica que permite aos psiquiatras interromper os caminhos bioquímicos que possibilitam que a memória seja lembrada.

Os especialistas utilizaram um fármaco denominado propanolol que atinge as memórias indesejadas deixando intactas as restantes recordações. A substância foi injectada ao mesmo tempo que era pedido a um dos voluntários que recordassem uma memória traumática.

O estudo, publicado no “Journal of Psychiatric Research”, indica que a utilização do fármaco parece impedir o armazenamento das memórias indesejadas. Os investigadores acreditam que a descoberta poderá conduzir a novos tratamentos para doentes com perturbações psiquiátricas, como é o caso do stress pós-traumático. No entanto, alguns especialistas alertam para o facto da investigação ainda se encontrar em fase inicial, e mostraram-se preocupados com a hipótese da utilização do medicamento potenciar o excesso de utilização.

Para realizar a investigação foram analisadas 19 vítimas de violação ou acidente durante 10 dias, algumas tratadas com o medicamento e outras com um placebo. Os cientistas pediram aos participantes que descrevessem as suas recordações do evento traumático que tinha ocorrido 10 dias antes. Uma semana mais tarde, os cientistas observaram que as pessoas que receberam a injecção de propanolol demonstraram menos sintomas de stress quando se recordavam do trauma.

Uma investigação semelhante foi levada a cabo na Universidade de Nova Iorque, mas desta vez aplicada em ratos. Utilizado um fármaco para a amnésia, denominado U0126, os especialistas norte-americanos conseguiram remover uma memória específica do cérebro dos roedores deixando as restantes recordações intactas.

Depois de terem sido administrados com a substância, os ratos foram treinados para associarem dois tons musicais através de um leve choque eléctrico para que quando ouvissem qualquer um dos sons se preparassem para receber um choque. Os investigadores deram o medicamento a metade dos ratos enquanto tocavam um dos tons musicais. Depois de ingerirem o U0126, os animais que tinham tomado o medicamento já não associavam um som particular ao choque mas ainda relacionavam o choque ao segundo tom, demonstrando que apenas uma das memórias tinha sido apagada.

Os especialistas acreditam que as memórias são inicialmente armazenadas no cérebro, em estado fluído e maleável, antes de se tornar parte do circuito. Posteriormente, quando são recordadas, voltam a tornar-se fluidas e aptas a serem alteradas. Os cientistas estão convencidos que o propandolol interrompe os caminhos bioquímicos que permitem que a memória se “solidifique” depois de ser recordada.

Marta Bilro

Fonte: BBC News, Xinhua, Daily India.

1 comentário:

Rui Borges disse...

O artigo deve ser resumido para 5 parágrafos e deve mencionar o facto de o propanolol ser um bloqueador beta, utilizado há muito tempo para tratamento de doenças cardíacas, nomeadamente hipertensão.