segunda-feira, 18 de junho de 2007

FDA dá luz verde ao ambrisentan para tratar hipertensão pulmonar

A Gilead Sciences obteve aprovação da Administração Norte-Americana dos Alimentos e Fármacos (Food and Drug Administration - FDA) para comercializar ambrisentan, um fármaco que será utilizado no tratamento da hipertensão arterial pulmonar.

Esta doença rara provoca continuamente pressão elevada nas artérias que transportam sangue pobre em oxigénio do coração para os pulmões. O estreitamento das artérias obriga o coração a bombear mais arduamente, enfraquecendo-o com o tempo. Se não for tratada, esta doença pode provocar a morte num prazo de três anos.

A maioria dos pacientes com hipertensão arterial pulmonar queixa-se de exaustão, dificuldades em respirar, incapacidade para andar grandes distâncias ou para desempenharem as tarefas normais do dia-a-dia.

Os analistas acreditam que, em 2010, a venda do medicamento possa render cerca de 746 milhões de euros (mil milhões de dólares norte-americanos) por ano.

O fármaco, que nos Estados Unidos da América será comercializado com o nome Letairis, deverá estar disponível na próxima semana e, de acordo com Amy Flood, porta-voz da Gilead, o custo mensal do tratamento deverá rondar os três mil euros.

“O Letairis representa uma opção valiosa no tratamento desta doença órfã”, afirmou o director do departamento de novos fármacos da FDA, John Jenkins. O novo medicamento desempenha um papel importante na hipótese de diversificação da farmacêutica que concentra 70 por cento das suas vendas em medicamentos contra o HIV/Sida.

A Gilean, especializada em biotecnologia, conseguiu obter o fármaco após a compra da Myogen, em 2006, por 1,9 mil milhões de euros (2,5 mil milhões de dólares), assumindo o controlo sobre o negócio dos medicamentos experimentais para tratamento de hipertensão levados a cabo pela empresa.

No entanto, nem tudo são vantagens. O fármaco é acompanhado por fortes advertências que alertam para a probabilidade de causar malformações nos fetos, razão pela qual não deve ser administrado a grávidas. Há ainda o risco de provocar danos hepáticos. Por recomendação da FDA, os pacientes aos quais for administrado o tratamento diário composto pela toma de um comprimido deverão sujeitar-se, todos os meses, à realização de análises ao sangue para verificar a existência de lesões no fígado.

O fármaco não foi aprovado à primeira pelas autoridades norte-americanas, mas tinha prioridade de revisão pela FDA. A revisão prioritária é concedida aos produtos destinados a satisfazer necessidades médicas que ainda não têm resposta. Nestes casos, a FDA estabelece um prazo limite nos seis meses que se seguem à data de recepção do fármaco que lhe permita avaliar todos os aspectos de uma revisão.

Nos ensaios clínicos realizados, o ambrisentan ajudou os pacientes a caminharem 124 passos extra num teste clínico de seis minutos e os benefícios da sua actuação prolongaram-se por 48 semanas, revelou a empresa. O director de operações da Gilead, John Milligan, disse ainda que o medicamento tem benefícios para o paciente ao nível da capacidade de se exercitar e atrasa o agravamento progressivo da doença.

O Letairis insere-se na classe dos antagonistas dos receptores de endotelina, um composto que relaxa os vasos sanguíneos, diminuindo a pressão do sangue, aliviando a pressão no coração e nos pulmões.

Apesar da hipertensão arterial pulmonar ser uma doença pouco comum, já existem vários tratamentos disponíveis, como é o caso do Revatio (sildenafil), da Pfizer, que contém a mesma substância presente na composição do Viagra. Ainda assim, o Letairis deverá competir de forma mais directa com o Tracleer (bosentano), um fármaco comercializado pelo laboratório suíço Actelion. O Thelin (sitaxentano), desenvolvido pela Encysive, actua da mesma forma, porém ainda não recebeu parecer positivo da FDA.

Porém, John Milligan fez questão de salientar que, quando comparado com o Tracleer, o perigo de toxicidade para o fígado é “significativamente mais reduzido” com a utilização de Letairis. “O funcionamento do fígado é uma questão muito importante para os médicos”, acrescentou.

Segundo revelou o mesmo responsável, uma das ambições da Gilead é trabalhar de perto com os médicos enquanto o fármaco ainda é recente. O objectivo é assegurarem que o Letairis é receitado aos pacientes para que os médicos possam ganhar confiança na sua utilização.

Essa é uma das razões pela qual o medicamento tem um preço de comercialização idêntico ao do Tacleer. “Não queremos que os médicos e os pacientes se baseiem numa decisão económica”, mas antes “que escolham o melhor fármaco”, explicou Milligan.

O que é a hipertensão arterial pulmonar?

De acordo com a Associação Portuguesa de Hipertensão Pulmonar, esta é uma doença crónica, rara, e progressiva, caracterizada por um aumento da pressão sanguínea na artéria pulmonar.

Numa pessoa saudável a pressão arterial média na artéria pulmonar (PAMAP) (diferença entre o valor mais alto e o mais baixo) é de 14 mmHg. Falamos em HP quando a pressão média na artéria pulmonar for superior a 25 mmHg em repouso ou superior a 30 mmHg durante exercício. A doença caracteriza-se por destruição e estreitamento progressivo dos vasos sanguíneos pulmonares.

Nas fases mais avançadas da doença o aumento da pressão na artéria pulmonar provoca uma sobrecarga de trabalho para o coração que pode conduzir a insuficiência cardíaca.

Marta Bilro

Fonte: The Wall Street Journal, The New York Times, First World, FDA News, MSN Money, Bloomberg, Associação Portuguesa de Hipertensão Pulmonar.